Luci Maria Teston, Ermício Sena, Manoel Valdemiro F. Rocha e Rosa Indira Alves
As eleições deste ano no Acre confirmaram o deslocamento da inclinação ideológica do sistema partidário para a direita. Foram reeleitos 11 deputados estaduais da base de apoio ao governo na atual legislatura.
1 Renovação de 50% das cadeiras
Se as eleições estaduais para a Assembleia evidenciam uma base de governo fortalecida, também marcam a renovação. Dos 24 deputados estaduais da legislatura atual, somente a metade foi reeleita.
Tabela 1: Deputados eleitos para a Legislatura 2023-2026.
CANDIDATO |
PARTIDO |
SITUAÇÃO |
VOTOS |
Nicolau Junior |
PP |
Reeleito |
16.636 |
Maria Antônia |
PP |
Reeleita |
10.485 |
Emerson Jarude |
MDB |
Eleito |
8.540 |
Manoel Moraes |
PP |
Reeleito |
8.479 |
Gilberto Lira |
UNIÃO |
Eleito |
8.407 |
Clodoaldo Rodrigues |
REPUBLICANOS |
Eleito |
8.227 |
André da Droga Vale |
PODE |
Reeleito |
8.157 |
Pedro Longo |
PDT |
Reeleito |
7.732 |
Tchê |
PDT |
Reeleito |
7.390 |
Fagner Calegário |
PODE |
Reeleito |
7.112 |
Luiz Gonzaga |
PSDB |
Reeleito |
6.680 |
Whendy Lima |
UNIÃO |
Reeleito |
6.673 |
Tadeu Hassem |
REPUBLICANOS |
Eleito |
6.175 |
Adailton Cruz |
PSB |
Eleito |
6.157 |
Drª Michelle Melo |
PDT |
Eleito |
5.990 |
Edvaldo Magalhães |
PC do B |
Reeleito |
5.822 |
Afonso Fernandes |
PL |
Eleito |
5.731 |
Antonia Sales |
MDB |
Reeleita |
5.720 |
Tanizio Sá |
MDB |
Eleito |
5.703 |
Chico Viga |
PDT |
Reeleito |
5.601 |
Gene Diniz |
REPUBLICANOS |
Eleito |
5.512 |
Arlenilson Cunha |
PL |
Eleito |
5.471 |
Pablo Bregense |
PSD |
Eleito |
5.386 |
Eduardo Ribeiro |
PSD |
Eleito |
4.810 |
Fonte: Tribunal Superior Eleitoral. Elaboração própria.
Dos 12 deputados reeleitos, apenas um parlamentar (PC do B) não integra a base de sustentação do atual governador na Assembleia. Os três candidatos reeleitos pelo mesmo partido do governador (PP) estão entre os quatro mais votados, reforçando o indicativo da força do partido do governador para o sucesso eleitoral dos parlamentares.
2 Distribuição das forças partidárias
Houve um alargamento substancial da direita, consolidando a tendência observada nos anos anteriores. Os partidos à direita na composição da Casa saltaram de 40% para 58%. O centro teve um decréscimo, passou de 24% para 16% e a esquerda caiu de 35% para 25%.
Dos 24 deputados que irão compor a nova legislatura em 2023, 14 são de partidos considerados pertencentes ao espectro ideológico da direita. Por outro lado, partidos à esquerda não tiveram bom desempenho eleitoral. O PT e o PV, por exemplo, perderam as duas cadeiras conquistadas em 2018. Em paralelo, houve o fortalecimento do PDT, que ampliou de um para quatro parlamentares eleitos nestas eleições.
O desenho da Aleac para os próximos quatro anos deve ser cotejado com as alianças que o governo fará para determinar como será a atuação de parlamentares eleitos em partidos de esquerda, como é o caso do PDT que, nesta legislatura, é da base do governador e vota nas pautas do Executivo, mesmo que estas não sejam pautas defendidas pela esquerda, a exemplo do Projeto de Lei de Concessão de Florestas Públicas.
3 Menor fragmentação partidária na Assembleia
As eleições evidenciaram menor nível de fragmentação partidária. Ao todo foram 11 partidos com votação significativa para galgar assentos, cinco a menos do observado na legislatura atual.
A nova composição da Aleac contará com forças políticas e partidos fortalecidos, como é o caso do PDT, considerado vitorioso nas eleições deste ano, com quatro deputados eleitos, constituindo a maior bancada do parlamento. Os partidos PP, MDB e Republicanos elegeram três parlamentares cada. União Brasil, PL, Podemos e PSD elegeram dois deputados estaduais e PSB, PC do B e PSDB um deputado. Importante ressaltar que o PT, maior força política no Acre por 20 anos, não conquistou cadeiras na Aleac nestas eleições.
4 Conquista de espaço por agrupamentos familiares
Seis famílias e grupos políticos mantiveram ou conquistaram espaço na Aleac. Entretanto, também houve quem recebeu um recado negativo nas urnas. Dos candidatos reeleitos pertencentes a famílias e grupos políticos estão Antônia Salles (MDB), da família Salles e Nicolau Junior (PP), atual presidente da Aleac e integrante do grupo político associado à família Cameli.
Entre os deputados estaduais eleitos em primeira legislatura estão representantes de outras quatro famílias: Tadeu Hassem (Republicanos), da família Hassem; Gene Diniz (Republicanos), da família Diniz; Gilberto Lira (União), integrante do grupo político que tem como expoente a família Serafim; e Dra. Michele Melo (PDT), da família Santiago.
Dentre os representantes de agrupamentos familiares com atuação na política que não alçaram vitória ao parlamento acreano está José Bestene (PP), da família Bestene. A família, com atuação na capital Rio Branco foi derrotada nestas eleições. O deputado estadual José Bestene, candidato à reeleição e seu filho, o vereador Samir Bestene, candidato a deputado federal, não foram eleitos.
5 Perspectivas para os próximos quatro anos
A reeleição do governador Gladson Cameli (PP) no primeiro turno das eleições de 2022 ao governo do Acre, com mais de 56% dos votos válidos, pode estar associada à onda antipetista que tomou conta do Estado desde a eleição de 2018. Na disputa atual, Gladson Cameli teve como principal oponente a principal liderança do PT no Acre, o ex-prefeito de Rio Branco, ex-governador e ex-senador Jorge Viana, que obteve pouco mais que 24% dos votos válidos.
A expressiva votação obtida pelos candidatos a deputado estadual eleitos nesse pleito aliados do governo estadual e federal pode estar relacionada aos altos índices de popularidade do governador e do presidente no estado.
Outra variável explicativa para a votação em deputados situados em partidos de direita pode estar relacionada com o financiamento da campanha, ancorado no Fundo Eleitoral, já que neste ano os partidos obtiveram fartos recursos públicos para este fim. Comparando o financiamento eleitoral dos atuais deputados que foram reeleitos com seus respectivos recebimentos de recursos oriundos de seus partidos nas eleições de 2018 e 2022, observa-se um aumento substancial nos valores recebidos.
Diante da composição atual da Aleac e da vitória ainda em primeiro turno do governador atual pode-se presumir que o Executivo não terá muitas dificuldades em constituir maioria e definir a agenda diante de uma Assembleia predominantemente conservadora e alinhada com o governo.