Eleições 2022 para a Aleac: resultados e perspectivas

Luci Maria Teston, Ermício Sena, Manoel Valdemiro F. Rocha e Rosa Indira Alves

As eleições deste ano no Acre confirmaram o deslocamento da inclinação ideológica do sistema partidário para a direita. Foram reeleitos 11 deputados estaduais da base de apoio ao governo na atual legislatura.

1 Renovação de 50% das cadeiras

Se as eleições estaduais para a Assembleia evidenciam uma base de governo fortalecida, também marcam a renovação. Dos 24 deputados estaduais da legislatura atual, somente a metade foi reeleita.

Tabela 1: Deputados eleitos para a Legislatura 2023-2026.

CANDIDATO

PARTIDO

SITUAÇÃO

VOTOS

Nicolau Junior

PP

Reeleito

16.636

Maria Antônia

PP

Reeleita

10.485

Emerson Jarude

MDB

Eleito

8.540

Manoel Moraes

PP

Reeleito

8.479

Gilberto Lira

UNIÃO

Eleito

8.407

Clodoaldo Rodrigues

REPUBLICANOS

Eleito

8.227

André da Droga Vale

PODE

Reeleito

8.157

Pedro Longo

PDT

Reeleito

7.732

Tchê

PDT

Reeleito

7.390

Fagner Calegário

PODE

Reeleito

7.112

Luiz Gonzaga

PSDB

Reeleito

6.680

Whendy Lima

UNIÃO

Reeleito

6.673

Tadeu Hassem

REPUBLICANOS

Eleito

6.175

Adailton Cruz

PSB

Eleito

6.157

Drª Michelle Melo

PDT

Eleito

5.990

Edvaldo Magalhães

PC do B

Reeleito

5.822

Afonso Fernandes

PL

Eleito

5.731

Antonia Sales

MDB

Reeleita

5.720

Tanizio Sá

MDB

Eleito

5.703

Chico Viga

PDT

Reeleito

5.601

Gene Diniz

REPUBLICANOS

Eleito

5.512

Arlenilson Cunha

PL

Eleito

5.471

Pablo Bregense

PSD

Eleito

5.386

Eduardo Ribeiro

PSD

Eleito

4.810

Fonte: Tribunal Superior Eleitoral. Elaboração própria.

Dos 12 deputados reeleitos, apenas um parlamentar (PC do B) não integra a base de sustentação do atual governador na Assembleia. Os três candidatos reeleitos pelo mesmo partido do governador (PP) estão entre os quatro mais votados, reforçando o indicativo da força do partido do governador para o sucesso eleitoral dos parlamentares.

2 Distribuição das forças partidárias

Houve um alargamento substancial da direita, consolidando a tendência observada nos anos anteriores. Os partidos à direita na composição da Casa saltaram de 40% para 58%. O centro teve um decréscimo, passou de 24% para 16% e a esquerda caiu de 35% para 25%.

Dos 24 deputados que irão compor a nova legislatura em 2023, 14 são de partidos considerados pertencentes ao espectro ideológico da direita. Por outro lado, partidos à esquerda não tiveram bom desempenho eleitoral. O PT e o PV, por exemplo, perderam as duas cadeiras conquistadas em 2018. Em paralelo, houve o fortalecimento do PDT, que ampliou de um para quatro parlamentares eleitos nestas eleições.

O desenho da Aleac para os próximos quatro anos deve ser cotejado com as alianças que o governo fará para determinar como será a atuação de parlamentares eleitos em partidos de esquerda, como é o caso do PDT que, nesta legislatura, é da base do governador e vota nas pautas do Executivo, mesmo que estas não sejam pautas defendidas pela esquerda, a exemplo do Projeto de Lei de Concessão de Florestas Públicas.

3 Menor fragmentação partidária na Assembleia

As eleições evidenciaram menor nível de fragmentação partidária. Ao todo foram 11 partidos com votação significativa para galgar assentos, cinco a menos do observado na legislatura atual.

A nova composição da Aleac contará com forças políticas e partidos fortalecidos, como é o caso do PDT, considerado vitorioso nas eleições deste ano, com quatro deputados eleitos, constituindo a maior bancada do parlamento. Os partidos PP, MDB e Republicanos elegeram três parlamentares cada. União Brasil, PL, Podemos e PSD elegeram dois deputados estaduais e PSB, PC do B e PSDB um deputado. Importante ressaltar que o PT, maior força política no Acre por 20 anos, não conquistou cadeiras na Aleac nestas eleições.

4 Conquista de espaço por agrupamentos familiares

Seis famílias e grupos políticos mantiveram ou conquistaram espaço na Aleac. Entretanto, também houve quem recebeu um recado negativo nas urnas. Dos candidatos reeleitos pertencentes a famílias e grupos políticos estão Antônia Salles (MDB), da família Salles e Nicolau Junior (PP), atual presidente da Aleac e integrante do grupo político associado à família Cameli.

Entre os deputados estaduais eleitos em primeira legislatura estão representantes de outras quatro famílias: Tadeu Hassem (Republicanos), da família Hassem; Gene Diniz (Republicanos), da família Diniz; Gilberto Lira (União), integrante do grupo político que tem como expoente a família Serafim; e Dra. Michele Melo (PDT), da família Santiago.

Dentre os representantes de agrupamentos familiares com atuação na política que não alçaram vitória ao parlamento acreano está José Bestene (PP), da família Bestene. A família, com atuação na capital Rio Branco foi derrotada nestas eleições. O deputado estadual José Bestene, candidato à reeleição e seu filho, o vereador Samir Bestene, candidato a deputado federal, não foram eleitos.

5 Perspectivas para os próximos quatro anos

A reeleição do governador Gladson Cameli (PP) no primeiro turno das eleições de 2022 ao governo do Acre, com mais de 56% dos votos válidos, pode estar associada à onda antipetista que tomou conta do Estado desde a eleição de 2018. Na disputa atual, Gladson Cameli teve como principal oponente a principal liderança do PT no Acre, o ex-prefeito de Rio Branco, ex-governador e ex-senador Jorge Viana, que obteve pouco mais que 24% dos votos válidos.

A expressiva votação obtida pelos candidatos a deputado estadual eleitos nesse pleito aliados do governo estadual e federal pode estar relacionada aos altos índices de popularidade do governador e do presidente no estado.

Outra variável explicativa para a votação em deputados situados em partidos de direita pode estar relacionada com o financiamento da campanha, ancorado no Fundo Eleitoral, já que neste ano os partidos obtiveram fartos recursos públicos para este fim. Comparando o financiamento eleitoral dos atuais deputados que foram reeleitos com seus respectivos recebimentos de recursos oriundos de seus partidos nas eleições de 2018 e 2022, observa-se um aumento substancial nos valores recebidos.

Diante da composição atual da Aleac e da vitória ainda em primeiro turno do governador atual pode-se presumir que o Executivo não terá muitas dificuldades em constituir maioria e definir a agenda diante de uma Assembleia predominantemente conservadora e alinhada com o governo.