Luci Maria Teston, Ermício Sena, Manoel Valdemiro F. Rocha e Rosa Indira Alves
O eleitor acreano optou pela escolha de candidatos situados em partidos à direta do espectro ideológico em um movimento observado desde 2006, intensificado nas eleições de 2018 e consolidado em 2022. Neste ano, as eleições foram marcadas pela renovação e pela direita conquistando todas as cadeiras do Acre no Congresso Nacional.
Para compreender o movimento de avanço da direita no estado serão observados renovação, distribuição das forças partidárias, agrupamentos familiares vitoriosos, bem como a leitura de cenário para os próximos quatro anos no âmbito do Congresso Nacional.
1. Renovação de 100% das cadeiras na Câmara dos Deputados, se comparada às eleições de 2018
O principal dado eleitoral desta eleição de 2022 para a Câmara Federal do Acre é a renovação de 100% das 8 (oito) cadeiras que o estado detém pela legislação eleitoral.
Em julho de 2022, o deputado federal Alan Rick (União Brasil) pediu afastamento do cargo para dedicar-se à candidatura ao Senado, assumindo a vaga a suplente Antônia Lúcia (Republicanos). Considerando que Antônia Lúcia não foi eleita para a legislatura atual em 2018, pode-se afirmar que os eleitores do estado fizeram uma mudança radical na formação da bancada acreana na Câmara Federal (Tabela 1).
Tabela 1. Deputados Federais eleitos para a Legislatura 2023-2026.
CANDIDATO |
PARTIDO |
VOTOS |
OCUPAÇÃO ATUAL |
Socorro Neri |
PP |
25.842 |
Secretária de Estado de Educação |
Meire Serafim |
UNIÃO |
21.285 |
Deputada Estadual |
Coronel Ulysses |
UNIÃO |
21.075 |
Coronel da Polícia Militar do Acre |
Zezinho Barbary |
PP |
19.958 |
Empresário (ex-prefeito) |
Gerlen Diniz |
PP |
19.560 |
Deputado Estadual |
Dr. Eduardo Velloso |
UNIÃO |
16.786 |
Senador (assumiu a vaga do senador licenciado Márcio Bittar) |
Antônia Lucia |
REPUBLICANOS |
16.280 |
Deputada federal (assumiu na vaga do deputado federal licenciado Alan Rick). |
Roberto Duarte |
REPUBLICANOS |
14.522 |
Deputado Estadual |
Fonte: Tribunal Superior Eleitoral. Elaboração própria.
1.2 Direita monopoliza todas as cadeiras
Nestas eleições confirma-se a consolidação da inflexão à direita ocorrida em 2018 depois de 20 anos de governos petistas. Se na Assembleia Legislativa do Estado do Acre os partidos à direita do espectro ideológico conquistaram 50% das cadeiras, para a Câmara Federal todas as oito vagas serão ocupadas pela direita, com todos os eleitos considerados membros do “centrão”.
Gráfico 1 – Votos válidos para Deputado Federal no Acre (2002-2022)
Fonte: Tribunal Superior Eleitoral. Elaboração própria.
O PP e o União Brasil elegeram três deputados federais cada e o Republicanos dois deputados federais. Do total de 155.308 votos aos deputados eleitos, 65.360 foram para o PP; 59.146 votos para o União Brasil e 30.802 votos foram obtidos pelos candidatos eleitos pelo Republicanos.
Uma constatação importante foi o aumento da base de representantes da segurança pública. Nesta eleição foram eleitos dois profissionais da área: o Policial Rodoviário Federal Gerlen Diniz, atual deputado estadual, e o Coronel da Polícia Militar do Acre, Ullysses.
1.3 Menor fragmentação partidária
Se por um lado houve uma concentração partidária das cadeiras de deputado federal nestas eleições no Acre, observou-se também menor fragmentação partidária. Enquanto em 2018 a bancada eleita pertencia a sete partidos: PSDB (1), MDB (2), DEM (1), SOLIDARIEDADE (1), PCdoB (1), PDT (1) e PRP (1), nesta eleição de 2022 ficou concentrada em três partidos: PP (3), UNIÃO BRASIL (3) e REPUBLICANOS (2). Todos os eleitos integram partidos que compõem o chamado “centrão”, que é base do atual governo. Inclusive suas campanhas foram “casadas” com a do presidente atual Jair Bolsonaro.
Essa redução da fragmentação partidária decorre, em grande parte, da cláusula de barreira, na qual partidos não atingiram o número mínimo de votos e não elegeram nenhum nome. No Acre é o caso de Minoru Kinpara, do PSDB, que obteve a sexta maior votação (19.077 votos), mas o partido não obteve o mínimo dos votos necessários para elegê-lo deputado federal.
1.4 Espaço político familiar
As eleições atuais deram um duro recado a duas famílias tradicionais: os Melo e os Sales. O deputado federal Flaviano Melo, que já foi prefeito de Rio Branco, Senador e Governador do Estado, já tinha sido eleito nas últimas quatro legislaturas (2007-2022), todos mandatos pelo MDB, não conseguiu a reeleição.
A outra parlamentar de família tradicional na política no Acre e que perdeu as eleições foi Jéssica Sales, filha de políticos de Cruzeiro do Sul, segunda maior cidade do Estado. A deputada federal já havia sido eleita nas últimas duas legislaturas (2015-2022) ambos com mandatos pelo MDB. A família ainda elegeu a matriarca Antônia Sales para a Assembleia Legislativa do Acre, mas a perda do mandato de deputada federal tende a abalar o poder familiar dos Sales.
Uma família tradicional da política que saiu fortalecida desta eleição foi a família Serafim. A esposa do prefeito da cidade de Sena Madureira (terceiro colégio eleitoral), atual deputada estadual, foi eleita deputada federal, demonstrando uma força em ascensão no Estado.
Outra família que conquistou uma vaga no parlamento federal foi a família Diniz, com Gerlen Diniz, pelo PP. Seu irmão, Gene Diniz, foi eleito deputado estadual, consolidando a influência da família no mesmo reduto da família Serafim, o município de Sena Madureira.
2. Eleição para o Senado no Acre em 2022
A eleição para o Senado no Acre, desde a definição de candidaturas, na pré-campanha, esteve envolva em incertas quanto às alianças. O atual senador Márcio Bittar (União Brasil), afastado, apoiado pelo filho do presidente Bolsonaro, Flávio Bolsonaro, buscou inicialmente uma aliança com o PP do governador reeleito Gladson Cameli, para que sua ex-esposa Márcia Bittar fosse candidata a vice na chapa do governador.
Entretanto, esta tentativa esbarrou na definição por parte de Gladson Cameli de ter como vice a atual senadora em final de mandato Mailza Gomes. Esta articulação malfadada do senador Márcio Bittar o levou a definir sua candidatura ao governo pelo União Brasil e de sua ex-esposa Márcia Bittar ao senado pelo PL de Jair Bolsonaro.
Outra indefinição que perdurou na pré-campanha até as vésperas das convenções partidárias foi a eventual candidatura do ex-prefeito de Rio Branco, ex-governador do Estado e ex-senador Jorge Viana. As pesquisas eleitorais o colocavam como favorito, seguido por Alan Rick, vitorioso nestas eleições ao Senado.
Jorge Viana acabou definindo pela candidatura ao governo e isto contribuiu para que Alan Rick fosse eleito senador, mesmo com todos os sinais de crise entre os partidos PP, União Brasil e PL, por conta das definições de candidaturas ao Senado e a vice na chapa do governador Gladson Cameli.
Houve, portanto, a consolidação da tendência à direita percorrida pelo estado. Vale ressaltar que os três representantes do Acre no Senado a partir de 2023 pertencem a partidos de direita (Gráfico 2).
Gráfico 2 – Votos válidos para Senado no Acre (2002-2022)
Fonte: Tribunal Superior Eleitoral. Elaboração própria.
Durante a contenda eleitoral, tanto Márcia Bittar (PL), quanto Alan Rick (União), se diziam apoiados pelo presidente Bolsonaro. Em termos gerais, pode-se afirmar que os grupamentos que apoiaram o atual presidente, mesmos com as disputas internas, obtiveram sucesso eleitoral, elegendo o governador e o senador e deram a maior votação para o presidente Jair Bolsonaro no primeiro turno.
3. Cenários para os próximos anos
As eleições para a Câmara Federal e Senado no Acre elegeram representantes de partidos de direita e pertencentes ao chamado “centrão”. Pode-se dizer que, independentemente de quem vença as eleições presidenciais no segundo turno, estes representantes do Acre irão dialogar com pautas conservadoras, como armamento, exploração de áreas indígenas e concessão de florestas públicas.
Por outro lado, pode ocorrer um menor ou maior acirramento destas pautas dependendo de quem irá assumir a presidência da República nos próximos anos, visto que, invariavelmente, os parlamentares do Acre na Câmara Federal buscam alinhar-se com o Executivo, já que o estado depende quase que em sua totalidade de recursos do governo federal.