Política e relações familiares na atual composição da Assembleia Legislativa do Estado do Pará (ALEPA).  

Bruno de Castro Rubiatti, Carlos Augusto Souza, Rodrigo Dolandeli, Raimunda Eliene Silva, Mariana Costa

Introdução

Destacar a existência de vínculos familiares entre políticos não é algo novo quando se trata da política estadual no Brasil, nem algo que se limite a um estado ou região do país: parlamentares eleitos em diversas Assembleias Legislativas apresentam ligações familiares com outros políticos ou mesmo uma forte tradição política de suas famílias. O caso do Pará não é diferente. Na ALEPA é possível identificar deputados estaduais com esse tipo de vínculo, porém este não aprece ser o caso da maioria dos parlamentares na atual legislatura. Ao contrário, o que se observa para a ALEPA é que, atualmente, há uma forte presença de políticos ligados a grupos específicos, em especial evangélicos, que não possuem uma trajetória política em suas famílias.

Todavia, afirmar isso não é desconsiderar o peso que famílias políticas tradicionais exercem na política estadual. Por exemplo, se observarmos o caso da representação nacional e do governo do estado podemos ver nitidamente o peso dessa questão: Laércio Wilson Barbalho foi deputado estadual e teve seu mandato cassado após 1964. Seu filho é o atual senador Jader Barbalho (MDB), que é pai do governador Helder Barbalho e foi casado com a deputada federal Elcione Barbalho (MDB) e com a ex-deputada federal Simone Morgado (MDB). Cabe notar que essa situação não é específica da atual conjuntura: Jader Barbalho já ocupou os cargos de vereador da cidade de Belém, deputado estadual, deputado federal, governador do estado e Senador, além de ter sido ministro duas vezes, tendo iniciado sua carreira política em 1967 e estando atuante até o presente. Seu filho Helder Barbalho foi vereador em Ananindeua, prefeito da mesma cidade, deputado estadual, ministro de Estado e governador do estado do Pará. Já Elcione Barbalho, que além de ex-esposa de Senador Jader Barbalho é mãe do atual governador, já ocupou o cargo de vereadora em Belém e deputada federal. Já Simone Morgado ocupou os cargos de vereadora em Bragança, deputada estadual e deputada federal. Assim, a família Barbalho é um exemplo de força da tradição familiar na política do estado, mas esse tipo de vínculo não é regra quando tratamos da ALEPA.

Vínculos Familiares dos Deputados Estaduais na atual Legislatura da ALEPA

Ao observarmos os 41 atuais membros da ALEPA podemos notar que apenas 12 (29,3%) apresentam vinculação com outros políticos que exercem ou exerceram cargos eletivos. Todavia, nem todos esses casos podem ser considerados como de “famílias políticas”, a maioria não apresenta familiares com longa presença na política estadual e muitas vezes os políticos dessas famílias apresentam são parentes colaterais ou cônjuges.

Esse é o caso, por exemplo da deputada estadual Dilvanda Faro (PT) que é esposa do deputado federal, e atual candidato ao Senado, Beto faro (PT). Apesar de Beto Faro ter uma longa trajetória política no estado, essa não é derivada de vínculos familiares, mas sim por sua atuação sindical. Outra parlamentar que possui cônjuge também atuante na política é Diana Belo (MDB), cujo marido – Raimundo Belo – foi prefeito de Capitão Poço e deputado. Na mesma situação se encontra o deputado estadual Alex Santiago, cuja esposa é prefeita de Floresta do Araguaia.

Michele Begot (PSD) é esposa do ex-prefeito de Marituba, cidade da região metropolitana de Belém. Cabe destacar que a família Begot também tem forte presença política em outros municípios da mesma região, já tendo inclusive ocupado cargos de vereadores e vice-prefeito em Ananindeua.

Adriano Coelho (PDT) é irmão do vereador de Belém João Coelho (PTB). Cabe destacar que Adriano Coelho assume um cargo de Deputado Estadual após a saída do então deputado Dr. Daniel – que é eleito prefeito de Ananindeua em 2020. Com a ida de Adriano Coelho para a ALEPA, João Coelho assume a vaga. Dessa forma, apesar da vinculação familiar direta, não é possível apontar que exista aqui uma tradição familiar, já que ambos são novos na política, porém, João Coelho aponta que seu envolvimento com a política se deu a partir da atuação do irmão e que seu mandato na câmara de vereadores dará continuidade ao trabalho do irmão Adriano.

Ainda nas relações de parentesco colaterais temos o caso do Deputado Estadual Igor Normando (PODE). Normando é primo do governador Helder Barbalho (MDB) que, como apontado anteriormente, faz parte de uma família política tradicional no estado. Igor Normando iniciou sua carreira política no PMDB, sendo candidato à vereador em 2008, porém, não foi eleito nesse ano. Apenas na eleição municipal seguinte, em 2012, é que ele se elege vereador de Belém, agora concorrendo pelo PHS. Em 2016 é reeleito como vereador. Em 2014 Normando tentou uma vaga na ALEPA, mas não obteve sucesso, só sendo eleito Deputado Estadual em 2018. Além da relação de parentesco com o governador, seu irmão – Renan Normando (PODE) – foi eleito em 2020 para a Câmara Municipal de Belém.

Entrando agora nas relações familiares mais diretas – aqui entendidas como as de descendência e ascendência –, temos José Maria Tapajós (PP), cujo filho – Tapajós Júnior – é vereador em Santarém, no oeste do Pará. Antes de ser deputado estadual, José Maria Tapajós foi vereador em Santarém por seis mandatos, além de ter sido vice-prefeito. Nas eleições de 2018, não chegou a ser eleito, ficando na suplência pelo PL, mas com a saída de Renato Ogawa (PL) – eleito prefeito de Barcarena em 2020 –, assume uma cadeira de titular na ALEPA.

Wenderson Azevedo Chamon, conhecido como Chamonzinho (MDB), é filho do ex-deputado estadual, ex-prefeito de Curionópolis, ex-vereador de Marabá e secretário de governo do Sul e Sudeste do Pará, João Chamon Neto. Assim como o pai, Chamonzinho foi prefeito de Curionópolis, além de vereador na mesma cidade. Cabe aqui notar que antes de sua emancipação, o que hoje é o município de Curionópolis eram parte de Marabá. Assim, pai e filho possuem base eleitoral em uma mesma região – o mesmo que ocorre com José Maria Tapajós e Tapajós Júnior.

Cilene Couto (PSDB) também é filha de um político: Mario Couto Filho (atualmente no PL), que foi deputado estadual por quatro mandatos e foi eleito para um mandato de Senador (nesse caso, pelo PSDB). Em 2020, Mario Couto foi candidato a prefeitura de Belém, não sendo eleito. Cilene Couto está em seu terceiro mandato na ALEPA, tendo sido eleita a primeira vez em 2010, período em que seu pai era Senador da república.

Outro caso de filho de político que ocupa uma cadeira na ALEPA atualmente é o de Gustavo Sefer (PSD) é filho do ex-deputado estadual Luiz Sefer. Além de deputado, Luiz Sefer é médico e donos de hospitais no interior do estado. Todavia, o fato que mais chama a atenção em sua trajetória é o processo movido contra ele por abuso de menor de idade. O caso teria ocorrido em 2005, mas foi denunciado em 2009, e se referia ao caso de abuso de uma menina de 9 anos que trabalhava na casa do ex-deputado. No início de 2022 o Tribunal de Justiça do Pará (TJ-PA) anunciou a pena de Luiz Sefer, mas segundo a defesa, a decisão ainda pode ser reformada por recursos a Tribunais Superiores. Mesmo com esse processo em andamento, Gustavo Sefer é eleito vereador de Belém em 2016 e deputado estadual em 2018 e foi lançado como candidato para a prefeitura de Belém em 2020, não sendo eleito.

O Deputado estadual Miro Sandova (PDT) é filho do ex-vereador de Ananindeua Nonato Sandova. Em sua biografia no site da ALEPA o próprio parlamentar credita sua iniciação política a atuação parlamentar do pai – como as visitas às comunidades de Ananindeua, segundo maior município do estado do Pará.

Thiago Araújo (CIDADANIA) foi eleito vereador de Belém em 2012, com apenas 20 anos. Já em 2014 foi eleito para a ALEPA, sendo reeleito em 2018. Em 2020 foi candidato à prefeitura de Belém, contando com o apoio do então prefeito Zenaldo Coutinho (PSDB), mas não foi eleito. Essa rápida trajetória política contou com o apoio de seu pai: Zeca Araújo, ex-deputado e Conselheiro do Tribunal de Contas dos Municípios do Pará (TCM-PA).

Dessa forma pode-se notar que, apesar da existência de parlamentares com vinculação familiar direta com outros políticos, são poucos os casos em que famílias politicamente tradicionais estejam ocupando atualmente a ALEPA. Ao que tudo indica, o Legislativo estadual é apenas uma etapa na carreira política desses parlamentares, sendo que, posteriormente, muitos desses membros de famílias políticas mais tradicionais buscam alcançar cargos Executivos ou no Legislativo nacional.

Considerações Finais

Buscamos aqui apresentar a vinculação familiar dos atuais Deputados Estaduais do Pará, apontando seus vínculos de parentesco. Todavia, chama a atenção na atual composição da ALEPA que, mais do que famílias, os membros desse Legislativo se apresentem como integrantes de outras redes de relações, com especial destaque para vínculos com comunidades e igrejas evangélicas. Assim, antes de ser elemento central para a ocupação da ALEPA, o pertencimento familiar é menorizado frente a outros tipos de relações.

Cabe aqui um destaque para o caso de jovens políticos que conseguem alcançar rapidamente postos na ALEPA, em especial Gustavo Sefer e Thiago Araújo. Em ambos os casos eles são beneficiados pela visibilidade e rede de relações de seus país, tendo assim uma rede de sustentação política que não é comum a outros jovens candidatos.

Nota-se também que as relações familiares apresentadas pelos deputados se limitam a regiões específicas (por exemplo, alguns casos no oeste do estado, outros ao sul e sudeste e alguns na região metropolitana). Assim, esses vínculos familiares podem ter força em diferentes contextos locais, reforçando uma distribuição de votos de forma regionalizada.

Por fim, com exceção de algumas famílias políticas, a maior parte dos casos em que foram identificadas relações de parentesco com outros políticos nota-se que não é uma relação de longa data, ficando limitada, na maior parte dos casos, a relações colaterais (primos e irmãos) e conjugais. Há uma menor presença de casos que envolvam descendência ou ascendência e, mesmo nesses casos, se identifica maior presença de apenas um espaço geracional.