Geografia do voto e eleições no estado do Pará: análise das candidaturas de Edmilson Rodrigues e Dr Daniel

Carlos Augusto Souza, Rodrigo Dolandeli dos Santos, Bruno Rubiatti, Raimunda Eliene, Mariana Costa da Silva

Introdução

O objetivo desta análise consiste em avaliar a geografia eleitoral de duas lideranças importantes na composição da representação política paraense, tanto na esfera federal (Câmara dos Deputados) quanto na esfera estadual (Assembleia Legislativa do Estado do Pará).

O critério de seleção dos candidatos teve como parâmetro o candidato mais votado na eleição federal e o mais votado na eleição estadual de 2018 e a distribuição da votação dos mesmos nos diversos municípios que compõem a geografia política do estado.

Desta forma, na esfera federal, foi selecionado o candidato Edmilson Rodrigues, que obteve a maior votação individual entre todos os candidatos que disputaram a eleição de 2018 para a composição da bancada paraense na Câmara dos Deputados e, na esfera estadual, selecionou-se a distribuição da votação do Dr. Daniel, que obteve a maior votação individual entre todos aqueles que disputaram uma vaga para a ALEPA.

Os estudos sobre geografia do voto apresentam como objetivo identificar a relação dos representantes com os territórios, de forma a verificar a existência de determinados padrões de votação na relação dos deputados com suas bases eleitorais, no caso os municípios.

O Estado do Pará apresenta uma composição territorial que incorpora 144 municípios, que se constituem na unidade primária onde os candidatos procuram apoio político e a adesão do eleitor a determinadas candidaturas.

Na esfera eleitoral, é nos municípios que a competição eleitoral e a preferência do eleitor por determinado candidato se materializa em voto, e por isso, para efeito desta análise, os municípios formam a unidade territorial para a construção de evidências sobre os padrões territoriais de votação dos candidatos selecionados.

Do ponto de vista metodológico, o padrão de votação dos deputados foi construído a partir da construção de mapas interativos que permitem visualizar a porcentagem de votação dos deputados em relação a sua votação total e sua distribuição em todos os municípios que compuseram a competição eleitoral em 2018.

Para a análise dos mapas, de forma a compreender a geografia dos votos dos candidatos, vamos utilizar a metodologia proposta por Barry Ames (2003) que considera a existência de dois padrões possíveis na relação dos candidatos com o espaço territorial onde disputam apoio político e votos.

1) Concentração territorial de votos – ocorre nas situações onde o candidato concentra uma elevada quantidade de votos em poucos municípios, o chamado reduto eleitoral.

2) Dispersão de votos – ocorre nas situações onde o candidato não apresenta redutos eleitorais consistentes e precisa distribuir sua votação em muitos municípios para se eleger.

De qualquer forma, partimos da suposição presente na literatura sobre geografia política, que, no Brasil, competir por votos, também significa competir por espaço, o que confere elevado peso ao território na determinação da representação política.

Geografia do voto de Edmilson Rodrigues

O candidato Edmilson Rodrigues é Arquiteto, formado pela Universidade Federal do Pará (UFPA), com mestrado em Planejamento do Desenvolvimento pela UFPA e doutorado em Geografia Humana pela Universidade de São Paulo (USP).

Trata-se de um candidato com uma carreira consolidada, disputando sucessivas eleições por partidos vinculados ao campo da esquerda. Foi eleito deputado estadual pelo PT em 1986 e 1990. Também se elegeu prefeito de Belém pelo PT em 1996 tendo sido reeleito em 2000. Em 2005, trocou o PT pelo PSOL, onde foi eleito deputado estadual em 2010 e deputado federal em 2014 e 2018.

Em 2020, o candidato concorreu ao comando da prefeitura de Belém e se elegeu em segundo turno contra o candidato Everaldo Eguchi, do Patriotas, apoiado pelo presidente Jair Bolsonaro.

Edmilson foi o candidato mais votado na eleição para Deputado Federal em 2018 com 184.041 votos, o que corresponde a 4,65% do total dos votos válidos nominais entre todos os candidatos que disputaram essa eleição.

Na análise da geografia eleitoral do candidato, os dados apresentados no mapa interativo demonstram que a distribuição da votação do candidato segue um padrão com elevada concentração de voto na capital do Estado e em alguns poucos municípios que compõem a Região Metropolitana de Belém.

Na capital do Estado, por exemplo, o candidato obteve 69,38% de sua votação total e em Ananindeua, município bastante próximo a Belém, o candidato obteve cerca de 10,98% de sua votação. Ou seja, apenas esses dois municípios contribuíram com mais de 80% da votação total do candidato.

A explicação para a elevada concentração de votos em municípios da Região Metropolitana de Belém pode apresentar relação com a trajetória política do candidato, que exerceu o comando da prefeitura de Belém por dois mandatos consecutivos e foi considerado um prefeito bem avaliado pela opinião pública, o que lhe conferiu elevado capital político na capital e nos municípios que compõem a conubarção urbana da cidade de Belém.

O padrão de votação alcançado pelo deputado Edmilson Rodrigues em 2018 parece coincidir com os estudos de Ames (2003) para quem um importante preditor na definição de um padrão territorialmente concentrado de votação, é justamente a trajetória política dos candidatos.

Para esta interpretação, candidatos que já ocuparam cargos executivos de natureza local (prefeitos ou vereadores) desenvolvem distribuições concentradas de apoio e votos porque o reconhecimento de seus nomes vai diminuindo à medida que cresce a distância do local em que atuam.

Edmilson é reconhecido como uma liderança política importante na capital e municípios do entorno de Belém, e, de fato, quanto mais distante se encontram os municípios da área de sua atuação política, mais decrescente se torna a sua votação territorial.

Mapa 1 Votação Edmilson Rodrigues
Fonte: Equipe Legal-PA
Mapa 2 Votação Edmilson Rodrigues – Índice de Moran
Fonte: Equipe Legal-PA
Mapa 3 Votação deputado estadual por município
Fonte: Equipe Legal-PA

Geografia do voto do Deputado Dr. Daniel

O candidato conhecido como Dr Daniel foi eleito para a Assembleia Legislativa do Estado do Pará com 113.588 votos, o que representa cerca de 2,83% do total de votos válidos computados na eleição de 2018.

Natural de Açailândia, no Maranhão, Daniel Barbosa Santos é médico formado pela Universidade do Estado do Pará, possuindo especialização em obstetrícia e ginecologia. Sua trajetória política é recente, pois ingressou na política eleitoral apenas em 2012 onde concorreu ao cargo de vereador pelo município de Ananindeua, pelo PSDB, sendo o segundo mais votado do município.

Em 2018 elegeu-se como o candidato mais votado para ocupar uma das 43 vagas disponíveis para a Assembleia Legislativa do Estado do Pará, sendo eleito presidente da ALEPA no biênio 2019-2020.

Na análise da geografia eleitoral do candidato em 2018, segundo a distribuição territorial de votação apresentado no mapa interativo (abaixo), a votação do candidato, diferentemente do candidato Edmilson Rodrigues, segue um padrão considerado como uma votação dispersa territorialmente.

Apesar do candidato ter como principais redutos eleitorais as cidades de Belém e Ananindeua, que contribuíram respectivamente com 19,15% e 6,15%, essas duas cidades corresponderam a apenas 25,3% de sua votação total. Isto indica que o candidato precisou do apoio político em diversos outros municípios para conseguir alcançar a votação que o colocou na condição do mais votado nesta eleição.

Esse padrão de votação na perspectiva de Ames (2003) reflete o padrão de votação dos representantes que não apresentam bases eleitorais bem definidas, o que acaba por influenciar na estratégia pela distribuição de votos em áreas territoriais menores, costurando coalizões em pequenas faixas de muitos municípios.

Mapa 4 Votação Dr Daniel

Fonte: Equipe Legal-PA

Mapa 5 Votação Dr Daniel – Índice de Moran

Fonte: Equipe Legal-PA

Mapa 6 Votação deputado federal por município

Fonte: Equipe Legal-PA

Referências Bibliográficas

AMES, Barry. Os entraves da democracia no Brasil. Tradução de Vera Pereira. Rio de Janeiro: Ed. FGV, 2003.