As eleições de segundo turno no Amazonas

Marilene Corrêa da Silva Freitas, Paula Mirana Sousa Ramos, Breno Rodrigo de Messias Leite, Simone Machado de Seixas

Em 2022, o Brasil realizou a nona eleição presidencial desde a redemocratização do país. A disputa entre o atual presidente da República Jair Messias Bolsonaro, candidato do Partido Liberal (PL), e Luiz Inácio Lula da Silva, candidato do Partido dos Trabalhadores (PT), reflete a forte polarização na qual se encontra a sociedade brasileira. A vitória de Lula com 60.345,999 votos, com 50,9%, aponta alguns fatos inéditos na história do Brasil após a redemocratização, tais como: o fato de ser o primeiro presidente a ser eleito pela terceira vez – os dois primeiros mandatos foram durante o período de 2002 a 2010 – e foi o primeiro a obter esse recorde de votos, contra 58.206,354 votos, 49,10%, de Bolsonaro. O objetivo desta Nota Técnica é, portanto, apresentar um panorama do segundo turno das eleições, visando compreender as possíveis conexões entre as eleições para o cargo do Poder Executivo Federal e Estadual.

Em 2018, após quatro mandatos consecutivos de candidatos do PT, foi eleito à Presidência da República Jair Bolsonaro, líder das forças conservadoras. Sua eleição foi influenciada pelo antipetismo, resultando na abertura do processo do impeachment de Dilma Rousseff, bem como a crise econômica, os efeitos da Operação Lava-Jato e a prisão de Lula em 2018. Entretanto, apesar da conjuntura, a diferença de votos entre os dois candidatos de aproximadamente dois milhões de votos reflete que o movimento bolsonarista é eleitoralmente competitivo no país. A força desse movimento pode ser vista através das inúmeras reações ocorridas após a divulgação do resultado das eleições, com manifestações de rua e protestos na frente dos quartéis.

A força do personalismo dos candidatos teve um papel decisivo na escolha eleitoral. Lula formou uma ampla coligação/federação com onze partidos, que uniu diferentes espectros, contando com partidos de esquerda, centro-esquerda e centro-direita. Já Bolsonaro recebeu o apoio de cinco partidos de centro-direita e direita. Nesse sentido, apesar da capacidade de Luiz Inácio Lula da Silva de formar uma aliança que dialogue com partidos de diversos espectros ideológicos, fator este que contribuirá para sua governabilidade, a sua vitória está fortemente ligada ao apoio de um eleitorado que se consolidou ainda no seu segundo mandato presidencial, as classes mais pobres. Durante o primeiro mandato, em 2002, Lula obteve o apoio, principalmente, da classe média que foi paulatinamente se afastando devido aos escândalos de corrupção e sendo substituída pelo apoio das classes mais baixas, principais beneficiárias dos programas sociais que se ampliaram no seu segundo governo. Bolsonaro se elegeu em 2018 com o apoio da classe média, dos militares e dos evangélicos. Durante os quatro anos do seu mandato, ele não conseguiu ampliar sua base de apoio nos setores mais pobres da sociedade, apesar de seu programa de transferência de renda, o Auxílio Emergencial.

No Amazonas, Lula obteve 1.004,991 votos, 51,1%, enquanto que Bolsonaro obteve 961.741, 48,9%. O presidente eleito venceu em 58 municípios, ao passo que Bolsonaro venceu em apenas quatro municípios, incluindo a capital Manaus, onde obteve 692.580 mil, 61,28%, contra 437.691, 38, 71%, de Lula. Nas eleições de 2018, na disputa entre Jair Bolsonaro e Fernando Haddad, o candidato do PT venceu em 59 municípios, onde só perdeu na capital Manaus, Guajará e Apuí. Note-se que o eleitorado amazonense manteve um padrão (Quadro 1). Nas eleições para segundo turno de 2018 e de 2022, o candidato do PT vence em quase todos os municípios do estado e perde na capital, onde se concentra a classe média e o empresariado.

Quadro 1 – Resultado da votação para presidente 2022 (2 turno)

AMAZONAS

Lula – 1.019.585 (49,85%)

Bolsonaro – 880.087 (42,80%)

Polarização – 92,65%

MANAUS

Bolsonaro – 622.846 (53,55%)

Lula – 430.562 (37,02%)

Polarização – 90,57%

Fonte: Portal Amazonas Atual, 2022.

O segundo turno do pleito estadual foi disputado entre o atual governador Wilson Lima, candidato do União Brasil, contra o ex-governador Eduardo Braga, candidato do Movimento Democrático Brasileiro. Com um mandato que foi marcado pela pandemia de COVID-19 e escândalos de corrupção, venceu as eleições com 1.039, 192 milhões, com 56, 65% por cento de votos, contra 795.098, 43, 35% de votos, do ex-governador Eduardo Braga. A distribuição geográfica dos votos dos dois candidatos mostra que Wilson Lima venceu em 34 municípios do estado Amazonas incluindo a capital Manaus, onde obteve 605.545 contra 409.094 votos do seu adversário, Eduardo Braga, que venceu em 28 municípios (Imagem 1).

Imagem 1 – Mapa do Amazonas no segundo turno das eleições. Em azul, aparecem as cidades onde Wilson Lima venceu; em verde, onde Eduardo Braga ganhou.
Fonte: G1 Amazonas, 2022.

Formando uma coligação de dez partidos alinhados à direita e à centro-direita, Wilson Lima contou com apoio de setores mais conservadores da sociedade, declarando seu apoio ao atual presidente Bolsonaro. Eduardo Braga formou uma coligação com cinco partidos de diferentes espectros ideológicos da direita à esquerda (Quadro 2), o ex-governador declarou seu apoio ao ex-presidente Lula, reflexo de alianças criadas durante os dois primeiros mandatos do ex-presidente, período em que foi governador do Amazonas por dois mandatos consecutivos.

Quadro 2 – Apoio das coligações para candidatos ao Governo do Estado 2022 (2 turnos)

Eleições para o Governo do Estado do Amazonas

Candidato

COLIGAÇÃO

Wilson Lima (UB)

UNIÃO, PL, Patriota, PTB, Republicanos, Avante, PSC, PRTB, PP, PMN

Eduardo Braga (MDB)

MDB, FE Brasil (PT, PV e PCdoB), PSD, PDT

Fonte: Legal – AM

Com a reeleição de Wilson Lima o cenário político local revela uma continuidade nos quadros políticos que ascenderam ao poder a partir de 2018, surgidos como um reflexo do bolsonarismo. Apesar do desempenho de seu partido União Brasil na formação dos quadros do legislativo estadual e federal, a eleição de seis deputados estaduais e dois deputados federais, a continuidade do governo de Wilson Lima terá um apoio mais favorável nos quadros do legislativo, marcado por um perfil mais alinhado à direita e conservador sem, contudo, deixar de ter um diálogo aberto e estreito com o governo federal.