A Dinâmica eleitoral nos estados da Amazônia Legal: Um quadro sintético e comparativo.

Fabiano Santos

Introdução

Os estados que compõem a região da Amazônia Legal apresentam diferentes comportamentos eleitorais ao longo do período de pesquisa, porém, no pleito eleitoral de 2018, essas disparidades foram reduzidas e movimentos em comum puderam ser observados. Esse período eleitoral foi marcado pela ascensão da direita e seus ideais ultraconservadores em todo país e, nessa região, não foi diferente. Dessa forma, no último pleito eleitoral a direita foi capaz de eleger diversos candidatos por toda a extensão da região estudada, mesmo em lugares em que tinha pouca tradição política.

A verdadeira diferença entre esses estados aparece na análise das eleições passadas. Com isso, é possível determinar as ideologias com mais tradição em cada estado, assim como observar os movimentos ascendentes e descendentes que resultaram no cenário atual. Essa determinação é importante tendo em vista detectar semelhanças entre estados e vislumbrar padrões de comportamento.

Estados com tradição de direita

Os estados da Amazônia Legal que possuem maior tradição de eleger partidos de direita são Roraima e Rondônia, mas também entram na categoria Amazonas e Tocantins. Esses estados apresentam em comum uma dominância da direita na maioria dos cargos, com exceção da presidência, durante todo o período. Tanto no executivo estadual quanto no legislativo estadual e federal, há uma predominância clara de candidatos de direita ou centro-direita, elegendo poucos candidatos de esquerda no período.

Além disso, os partidos de esquerda desses estados muitas vezes não seguem a classificação ideológica da forma esperada, podendo muitas vezes serem considerados de centro-esquerda ou centro. Logo, muitos candidatos com ideais conservadores são eleitos sob legendas de esquerda.

Um fenômeno importante a ser analisado separadamente é a grande mudança no comportamento eleitoral para presidência no período. Por mais que demonstrasse pouca força nos demais cargos, a esquerda aparece como muito forte nas eleições presidenciais, de forma que alcançava, no mínimo, a segunda colocação, disputando a primeira com o centro. Além disso, a direita possuía quase nenhuma relevância em eleições para o executivo federal, sem receber número significativo de voto até a repentina ascensão em 2018.

Com isso, pode-se entender que esses estados possuem uma forte tendência conservadora e costumam eleger candidatos de direita para a maioria dos cargos disponíveis. Embora tenha havido alguma adesão às candidaturas presidenciais do PT, esse alinhamento sofreu forte declínio, implicando o rápido aumento da direita conforme os ideais ultraconservadores ganharam espaço no cenário político.

Estados com tradição de centro

Os estados com tradição eleitoral de centro são o Pará e o Mato Grosso. Eles dividem a característica de elegerem muitos candidatos de partidos dos 3 blocos ideológicos definidos, ou seja, muitos candidatos de esquerda, direita e centro foram bem sufragados ao longo do período. O ponto importante de se observar, no entanto, é a alta relevância do centro em todos os pleitos. Raramente ocupando a terceira colocação, partidos de centro tendem a disputar vagas com a direita ou com a esquerda, enquanto poucas vezes a disputa ocorre entre estes dois polos. Isso demonstra o poder do centro nesses estados, de forma que mesmo em momentos de menor quantidade de votos, os partidos de centro permanecem pivotais, pois podem definir o resultado das eleições ao apoiar determinada ideologia em detrimento da outra, além de estar presente em coligações.

Esses dois estados, contudo, também possuem diferenças importantes. O Pará sempre apoiou a esquerda nas eleições presidenciais, inclusive em 2018. Enquanto isso, no Mato Grosso, o centro vence a esquerda no segundo turno em 3 oportunidades. Além disso, o estado possui a característica de serem povoados por partidos e candidatos que evitam seguir agendas políticas e ideologias bem definidas, disso resultando uma certa suavização das fronteiras partidárias, dificultando a identificação do eleitor com um discurso específico. Com isso, o estado foi alvo fácil da onda bolsonarista de direita e seu claro discurso ultraconservador, como se sabe catalisador do sentimento difuso antipolítica em 2018. Enquanto isso, o Pará foi um dos estados da Amazônia Legal onde menos se aderiu à onda do bolsonarismo – mesmo apresentando considerável ascensão da direita em 2018, foi um dos poucos onde o atual presidente não conquistou a maioria dos votos.

Estados com tradição de esquerda

Os 3 estados com forte tradição de esquerda são Maranhão, Amapá e Acre, mas devem ser analisados em dois grupos distintos. No caso do estado nordestino, a esquerda pode ser observada como a maior potência ideológica. Com exceção do Senado Federal, partidos de esquerda estão sempre na disputa por muitos votos, ocupando muito raramente a terceira posição. Já os outros dois estados, também apresentam a esquerda como a principal potência, contudo esse bloco ideológico vem perdendo força de forma gradativa, começando a pesquisa com números altos, mas apresentando declínio acentuado ao final do período.

Dessa forma, observa-se como, apesar de possuírem uma tradição de esquerda, Amapá e o Acre tornaram-se presas do conservantismo extremado de direita. Mesmo antes de 2018 é possível ver a esquerda perdendo votos para o centro e, então, para a ascensão da direita. Isso garantiu que o bolsonarismo tivesse o sucesso que teve nesses estados, de forma que o Acre, embora tenha votado majoritariamente em Dilma no pleito de 2014, foi o segundo estado com mais votos para Bolsonaro no segundo turno, junto de Roraima e Rondônia, estados, como visto, situados no espectro de direita.

O Maranhão, por sua vez, também deve ser analisado com cautela. Durante muitos anos o governo do estado foi dominado pela família Sarney. Com isso, eles foram capazes de enraizar sua orientação ideológicas de centro-direita em diversos partidos na região, independentemente de seus rótulos originais. Além disso, o Maranhão possui diversos candidatos que trocam de partidos com ideologias muito distintas, mostrando que, na realidade, as distinções precisam ser matizadas a todo momento.

Considerações Finais:

Por mais diferentes que fossem os comportamentos eleitorais prévios dos estados, todos foram alvos da ascensão da direita ultraconservadora, que atingiu seu ápice em 2018, com a eleição em massa de candidatos de direita e do presidente Jair Bolsonaro. Diversos estados demonstram afinidade com a esquerda, mas poucos a têm como potência e apenas em raras ocasiões foi capaz de impedir o declínio agudo e sobreviver ao bolsonarismo. Enquanto isso, o centro possui grande força na região como um todo, mesmo quando não predomina no âmbito local, pois sempre exerce alguma influência na política a partir de alianças, de forma que poucas vezes não soma números significativos.