Eleições, Partidos e Ideologia no Tocantins – 2002 a 2018

Cynthia Miranda, Albertina Vieira, Liana Vidigal, Talita Melz

O Estado do Tocantins, estado mais novo da federação brasileira, foi criado em 5 de outubro de 1988 pelo artigo 13 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias da Constituição do mesmo ano. As primeiras eleições do estado ocorreram no dia 15 de novembro de 1988 e no dia 1° de janeiro de 1989 o estado foi instalado, sendo empossados o governador eleito José Wilson Siqueira Campos (PDC) e seu vice, Darci Martins Coelho (PFL), além dos senadores e deputados federais e estaduais eleitos.

José Wilson Siqueira Campos, no ato da posse, assinou decretos para o funcionamento dos três poderes, criou municípios, além dos 79 herdados do antigo norte goiano, totalizando 139 municípios. A primeira Constituição do Estado do Tocantins foi promulgada no dia 5 de outubro de 1989. Desde a data da criação do Estado do Tocantins, o poder legislativo tocantinense é marcado pela instabilidade, por denúncias e cassações. Entre 1998 até março de 2022, houve cassações e renúncias de governadores. A última renúncia aconteceu no dia 11 de março de 2022, quando o governador afastado pelo Superior Tribunal de Justiça, Mauro Carlesse (PHS), renunciou para evitar que o pedido de impeachment fosse votado na Assembleia Legislativa do Tocantins (Aleto). O último governador eleito a terminar o mandato foi Marcelo Miranda, entre os anos de 2003 e 2006.

Eleições para Presidência da República

O Estado do Tocantins apresenta menos de dois milhões de habitantes. Nas eleições de 2018, segundo dados oficiais do Tribunal Superior Eleitoral houve 704.803 votos nominais (84,79%), 14.389 votos em branco (1,73%) e 112.022 votos nulos (13,48%) calculados sobre um total de 831.214 eleitores. O número de abstenções foi de 207.540 (19,98%).

Nas eleições para Presidência da República, conforme gráfico 1, estão dispostos os votos válidos do 1° turno, com destaque para a presença contínua de partidos de esquerda e centro nas disputas entre 2002 e 2014.

Gráfico 1 – Eleições Presidência da República
(Fonte: Dados do TSE)
Gráfico, Gráfico de linhas

Descrição gerada automaticamente

No Tocantins, a maioria dos eleitores votou em partidos de esquerda especialmente nas eleições de 2002, 2006, 2010 e 2014. No entanto, na última eleição, a preferência migrou para partidos de direita. A linha cinza do gráfico aponta para a presença dos partidos de centro no processo eleitoral, e manteve-se em alta durante o período em que a esquerda esteve no poder, caindo de forma proporcional à escalada da direita ao Palácio do Planalto.

Eleições para Governador

O Tocantins tem 32 partidos[1] políticos registrados no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Desses, o poder foi revezado entre quatro partidos desde o ano de 2002 até o presente momento, sendo que a grande parte foi composta por partidos de centro. No período dos cinco processos eleitorais (entre os anos de 2002 e 2018), houve pouca mudança no voto ideológico para o cargo de governador do estado do Tocantins, e os partidos do centro estiveram à frente do Palácio Araguaia por mais de 1/3 do tempo analisado. Apesar de o Tocantins ter passado por grandes períodos de hegemonia política, com reeleições de candidatos e manutenção do poder nas mãos de famílias tradicionais do estado, percebe-se que a transição de governos pouco alterou o cenário político.

Partidos de centro e direita se revezam à frente do governo do estado desde a sua criação e o cenário apenas foi modificado nas eleições de 2018 quando um partido de esquerda venceu as eleições para governador. No quadro abaixo, é possível observar a divisão dos partidos que ocuparam o poder nos pleitos de 2002 até 2018.

Quadro 1 – Governadores eleitos por partido e ideologia
(Fonte: produção das autoras)

Ano

Governador

Partido

Ideologia

Vice-governador

Partido

Ideologia

2002

Marcelo Miranda

PFL

Direita

Raimundo Boi

PFL

Direita

2006

Marcelo Miranda

PMDB

Centro

Paulo Sidney

PPS

Esquerda

2010

Siqueira Campos

PSDB

Centro

João Oliveira

DEM

Direita

2014

Marcelo Miranda

PMDB

Centro

Cláudia Lélis

PV

Esquerda

2018

Mauro Carlesse

PHS

Esquerda

Wanderley Barbosa

PHS

Esquerda

Já o gráfico 2 aponta para o total de votos válidos para governador, mais uma vez demonstrando que partidos de centro e direita se revezaram na gestão do estado. Mesmo com a vitória de partido de esquerda em 2018 (PHS), cabe destacar que a prática partidária no estado não esteve muito alinhada à classificação ideológica que é apenas uma medida aproximada.

Gráfico 2 – Eleições para Governador
(Fonte: Dados do TSE)
Gráfico, Gráfico de linhas

Descrição gerada automaticamente

A história política do governo do Tocantins é marcada pela gestão de duas famílias (Siqueira Campos e Miranda) que estiveram no poder por várias eleições consecutivas. Siqueira Campos, que teve uma atuação de destaque para criação do estado quando exercia o mandato de deputado federal, foi o primeiro governador eleito em 1988 e exerceu o cargo em quatro mandatos distintos. Em seu último mandato como governador, em 2014, renunciou ao posto para que seu filho Eduardo Siqueira Campos pudesse se candidatar ao governo do estado, o que não aconteceu. Já Marcelo Miranda, filho do ex-deputado estadual por Goiás Brito Miranda, foi eleito governador nos anos de 2002, 2006 e 2014. Em março de 2018, último ano de sua gestão, teve seu mandato cassado pelo Tribunal Superior Eleitoral com acusação de caixa dois durante a campanha de 2014.

Eleições para o Senado Federal

As eleições para o Senado Federal no período de 2002 a 2018 foram marcadas por acirradas disputas, nas quais ficam evidentes a maior presença de partidos de direita e centro na preferência dos eleitores, conforme pode ser visto no gráfico 3.

Gráfico 3 – Eleições para Senador
(Fonte: Dados do TSE)
Gráfico, Gráfico de linhas

Descrição gerada automaticamente

A dinâmica do voto para o cargo de senador no estado do Tocantins se deu de forma muito semelhante ao pleito para governador. A similitude pode ser atribuída ao desenho das coligações partidárias criadas para as eleições que reuniram partidos de centro e de direita o que resultou na eleição de governador e senador desses partidos que se revezaram ao longo do tempo, demonstrando assim que as alianças aumentaram o sucesso eleitoral do centro e da direita nas urnas. Assim, observa-se que as bancadas do Tocantins no Senado foram compostas em sua grande maioria por partidos de direita, resultado da forte influência das chapas eleitas para o governo do estado.

Eleições Câmara de Deputados

Os resultados das eleições para a Câmara de Deputados no período analisado não diferem de forma acentuada das eleições para governador e senador. O espectro ideológico dos votos válidos continuou oscilando entre as forças de centro e direita conforme está destacado no gráfico 4.

Gráfico 4 – Eleições para Deputado Federal
(Fonte: Dados do TSE)
Gráfico, Gráfico de linhas

Descrição gerada automaticamente

A representação dos partidos na bancada da câmara não ofereceu espaço aos partidos da esquerda, mantendo assim sua base constituída majoritariamente por partidos de centro e direita, mais uma vez, assemelhando-se ao êxito eleitoral dos mesmos partidos ao governo do estado e ao senado federal ao longo das eleições. No período analisado, percebeu-se que o PMDB nunca deixou de eleger um representante na Câmara, tendo resultados expressivos em todos os pleitos, o que fortaleceu a ocupação das cadeiras no órgão pela força de centro.

Eleições para Assembleia Legislativa

A presença constante dos partidos de direita e de centro no Tocantins também está representada na escolha do eleitorado tocantinense para a Aleto. No gráfico 5, é possível perceber que os partidos de direita alcançaram maior sucesso eleitoral em todo o período analisado, enquanto partidos de centro e esquerda oscilaram na preferência dos eleitores ao longo do tempo.

Algumas reflexões mais ampliadas merecem ser apontadas para a compreensão da movimentação dos partidos políticos nas eleições da Aleto. No ano de 2002, partidos de direita elegeram 15 representantes, seguido de partidos de centro com oito eleitos e a esquerda elegeu apenas um representante.

Gráfico 5 – Eleições para Deputado Estadual
(Fonte: Dados do TSE)
Gráfico, Gráfico de linhas

Descrição gerada automaticamente

Nas eleições do ano de 2006, houve uma leve alteração na representação partidária, oscilando entre os partidos de direita, centro e esquerda. Na referida eleição, os partidos de direita perderam quatro cadeiras e elegeram apenas 11 representantes. Os partidos de centro mantiveram as oito vagas e os partidos de esquerda ampliaram a representação com cinco eleitos.

No ano de 2010, a bancada que representa os partidos da direita voltou a ter 15 representantes na casa de leis. Já os partidos de centro perderam espaço e elegeram apenas cinco deputados, assim como a esquerda que perdeu uma cadeira e elegeu apenas quatro representantes.

A distribuição partidária, no ano de 2014, foi bem desigual, deixando os partidos de direita com maior expressão na Aleto, com a ocupação de 19 cadeiras. Os partidos do

centro perderam espaço e elegeram apenas um candidato, enquanto a esquerda manteve quatro cadeiras na bancada.

Mais uma vez percebe-se a hegemonia de partidos de direita na Aleto, pois a bancada foi composta por 18 representantes de partidos de direita, apenas três representantes de partidos de centro e mais três de partidos de esquerda.

Considerações Finais

Os dados analisados das eleições de 2002 a 2018, especialmente das eleições para o governo estadual, Assembleia Legislativa estadual, Senado e Câmara Federal, apontam para a preferência eleitoral entre partidos de direita e de centro se revezando nos cargos eletivos. Ao observar os dados é possível indicar que eles não estão descolados da história da criação do estado, em que duas famílias vinculadas a partidos de centro e de direita se revezaram na gestão do governo estadual. Quando as famílias representadas por Siqueira Campos e Marcelo Miranda não estavam ocupando a gestão estadual exerciam forte influência na definição dos postulantes ao cargo em decorrência da ampla base eleitoral conquistada ao longo de anos ocupando a gestão estadual.

A alternância do cenário político na gestão estadual do Tocantins a partir da vitória eleitoral da esquerda representada pelo sucesso eleitoral do PHS em 2018 merece uma reflexão a partir da realidade local. Embora o PHS esteja situado em uma classificação ideológica de esquerda, a vitória eleitoral do partido foi influenciada pela ocupação interina do pecuarista Mauro Carlesse no cargo de governador do Tocantins em março de 2018 quando o governador Marcelo Miranda e a vice-governadora Cláudia Lelis tiveram os mandatos cassados pelo TSE. Carlesse era o presidente da Aleto e assumiu interinamente, venceu as eleições suplementares em 24 de junho e foi reeleito governador em 2018. A prática partidária de Carlesse e sua atuação como governador até sua renúncia em março de 2022 evidenciam que sua gestão não esteve muito alinhada à classificação ideológica do seu partido.

Assim, nota-se que, apenas nas eleições presidenciais do referido período, a esquerda alcançou êxito eleitoral nas eleições de 2002, 2006, 2010, 2014 em contraposição a preferência dos eleitores pela direita e centro para os cargos de governador, senador, deputado federal e estadual. Contudo, nas eleições de 2018, a direita cresceu na preferência do eleitorado do Tocantins para a presidência da República.

  1. Disponível em: https://www.tre-to.jus.br/partidos/partidos-politicos. Acesso em 30 de mar 2022.