Antônia Miguel, Cleber Batalha, Edileuson Almeida, Jeferson França
De acordo com o TSE-RR, 366.641 eleitores estavam aptos a votar nas eleições de 2022 em Roraima no segundo turno. O estado representa apenas 0,23% do eleitorado nacional. No segundo turno a votação em Roraima foi somente para presidente, 286.269 eleitores (78,08%) compareceram às urnas. O total de votos válidos somaram 280.646 (98,04%), votos brancos somaram 2.173 (0,75%) e nulos 3.450 (1,21%), a taxa de abstenção foi de 21,92% (80.372 eleitores), maior que a do primeiro turno, quando Roraima registrou o menor índice de abstenção do país, 16,72% (61.228 eleitores)[1].
O candidato à reeleição Jair Bolsonaro (PL) obteve no segundo turno 58.206.354 votos, ou 49,10% dos votos válidos. Entretanto, o candidato Lula da Silva (PT) sagrou-se vitorioso ao obter 60.345.999 votos, ou 50,90% dos votos válidos. Foi uma disputa considerada como a mais acirrada, uma vez que, a diferença entre eles foi de 2.139.645 votos, ou 1,8% dos votos válidos.
Esse resultado demonstra uma forte polarização entre os eleitores, uma divisão que somente o tempo poderá dizer como serão os próximos embates políticos. Aponta-se algumas atitudes do grupo político envolta do Presidente como o desprezo pela Justiça Eleitoral e o emprego de atos que poderiam ser enquadrados como crimes contra a ordem democrática. O que evidencia o desprezo do grupo com parcela do eleitorado que lhe rendeu vitórias em importantes colégios eleitorais como São Paulo. Ou para os eleitores de locais onde obteve vitórias proporcionais significativas, como as do Acre, Rondônia e, principalmente, Roraima.
A já aguardada vitória em Roraima, obtendo a maior votação proporcional do país, ou seja, 76,08% dos votos válidos, repetiu o resultado do primeiro turno quando obteve 69,57% dos votos válidos, e a maior vitória entre os entes federados. Apontando uma ascensão que teve início nas eleições de 2018, quando no primeiro turno obteve 62,97% e no segundo turno 71,54% dos votos válidos.
Vitorioso em quatorze dos quinze municípios, Bolsonaro obteve no município de Caroebe a sua maior votação proporcional nos dois turnos: 75,41% e 80,23% dos votos válidos. Significativa foi a sua vitória na capital Boa Vista, onde obteve proporcional nos dois turnos: 72,26% e 79,47% dos votos válidos. Principalmente, na capital concentra-se em torno de 63% do eleitorado de Roraima. A única exceção foi Uiramutã, onde o candidato Lula da Silva, obteve no primeiro turno 66,62% e Bolsonaro 31,62% dos votos válidos. Já no segundo turno, Lula da Silva obteve 68,20% e o atual Presidente 31,80% dos votos válidos.
Dois fenômenos políticos presentes nas eleições de 2022 merecem mais atenção: o primeiro é a expressiva aceitação pelos roraimenses do candidato Bolsonaro, e o segundo é a exceção que os eleitores têm ao mesmo candidato no Uiramutã. Como explicar essas preferências? Quanto à aceitação é de se estranhar que até 2018, Bolsonaro que tinha a sua base eleitoral no Estado do Rio de Janeiro, e como deputado federal era conhecido pela verborragia ditatorial. Em 2018, surgiu como o candidato ante sistema e, ao mesmo tempo, resgatando uma pauta conservadora nos costumes e apologizando com práticas autoritárias.
Pode-se levantar algumas hipóteses para a imensa aceitação de Bolsonaro em Roraima. A primeira hipótese está na rejeição do eleitorado roraimense em relação ao Partido dos Trabalhadores e especialmente ao seu líder Lula da Silva. Uma das possíveis explicações está no apoio que o PT e os seus candidatos dispensam às populações indígenas e, mesmo com críticas, à questão ambiental. Assim, em seu pronunciamento após a vitória, o candidato eleito divulgou que criará um ministério para os povos originais e que o país terá uma posição firme quanto à questão ambiental, principalmente quanto à Amazônia. Foi durante o primeiro mandato de Lula da Silva que ocorreu a homologação da Terra Indígena Raposa Serra do Sol. Se de um lado, representou uma vitória para o movimento indígena, por outro lado, provocou a ira de setores econômicos como a rizicultura e a pecuária.
Quanto o principal problema socioambiental do Estado, que é a mineração ilegal na Terra Indígena Yanomami, o partido sempre se posicionou contra essa atividade. Assim, setores sociais que têm no garimpo ilegal o seu sustento e que representam uma parcela significativa do eleitorado, desaprovam discursos que não estão de acordo com os seus interesses.
Uma aproximação sociológica está por ser uma sociedade de fronteira. A maioria da população do Estado é formada por migrantes recém-chegados, buscando uma melhor oportunidade ou o mito do El Dorado. Querem uma melhoria de vida a qualquer custo, não se importando com questões legais associadas ao meio ambiente ou às populações tradicionais. Encontram políticos que os apoiam e que lhes dão voz. Nesse sentido, o atual Presidente da República tem, através de seu discurso e de suas ações, canalizado esses anseios. E muitos dos eleitos no primeiro turno, como o candidato reeleito para o governo Antônio Denarium (PP) e o senador eleito Hiran Gonçalves (PP) que aproximaram suas imagens e falas.
Não foi necessário vir a Roraima durante as campanhas de 2022, mas, no intervalo entre os dois turnos, enviou a primeira-dama Michelle e Damares Alves (Republicanos), senadora eleita pelo Distrito Federal, recepcionadas pelo governador reeleito, para uma programação de cunho religioso, já que ambas são conhecidas por serem de denominações evangélicas. Basta olhar os dados do Censo de 2010, onde 30,29% dos roraimenses eram evangélicos[2]. O apoio explícito de algumas denominações evangélicas ao candidato à reeleição somado a uma disputa religiosa sem precedentes no Brasil, demonstra como um culto pode transformar-se em um showmício.
Recentemente, a migração venezuelana cuja principal porta de entrada tem sido por Roraima, foi explorada contra o candidato do PT. Visto que, associam o PT com o governo venezuelano porque o partido não faz críticas ao atual regime, além do temor incutido de que um governo petista transformaria o Brasil em algo parecido com o país vizinho.
Inversamente, o município do Uiramutã destoou do restante do Estado. Desde 2006, tem dado vitórias aos candidatos presidenciais do PT. O atual prefeito é conhecido como Tuxaua Benício (REDE) e teve o candidato ao Senado Bartô Macuxi (PSOL) como o mais votado. Assim como, a candidata a deputada federal mais votada foi a atual Deputada Federal Joênia Wapichana (REDE).
Possivelmente, uma das explicações para esse comportamento está na composição de seu eleitorado, onde cerca 88,14% de sua população se declarou indígenas. Além do município está inserido na Terra Indígena Raposa Serra do Sol.[3] Há décadas que comunidades como Maturuca são conhecidas por resistirem às pressões da sociedade envolvente e por lutarem pela homologação de suas terras. Essas manifestações por seus direitos podem refletir nas escolhas políticas de seus cidadãos.
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Disponível em: https://www.tre-rr.jus.br/++theme++justica_eleitoral/pdfjs/web/viewer.html?file=https://www.tre-rr.jus.br/eleicoes/eleicoes-2022/eleicoes-2022-arquivos/tre-rr-resultado-da-votacao-br-2o-turno-eleicoes-2022/@@download/file/TRERR-relatorio-resultado-totalizacao-2T.pdf Acessado em: 05 de novembro de 2022. ↑
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Disponível em: https://cidades.ibge.gov.br/brasil/rr/pesquisa/23/22107?detalhes=true Acessado em: 20 de outubro de 2022. ↑
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Disponível em: IBGE | Indígenas | mapas. Acessado em: 20 de outubro de 2022. ↑