Distribuição de votos por blocos ideológicos de partidos em Roraima (2002-2018)

Roberto Ramos Santos, Geyza Pimentel, Edileuson Almeida e Jeferson França Castro

Desmembrado do Amazonas, Roraima foi território federal de 1943 a 1988, quando, pelo artigo 14 das disposições transitórias da Constituição Federal de 1988, transformou-se em estado. Com apenas quinze municípios e uma área geográfica quase do tamanho do estado de São Paulo, correspondendo a 224.298,98 Km² e com 46,5% de reservas indígenas, Roraima é o menor colégio eleitoral do país. Em 2021, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) contabilizou no estado 345.641 eleitores, equivalente 0,2% do eleitorado nacional.

O gráfico a seguir mostra o número de eleitores de Roraima entre as eleições de 2002 e 2018. Observa-se, nos dados, crescimento progressivo e substancial no número de eleitores aptos a votar. Em 2002, o TSE registrou 208.524 eleitores. Em 2006, o número subiu para 232.966. Em 2010, foi de 271.890. Em 2014, correspondeu a 299.558. E em 2018, o registro total foi 333.464 eleitores.

Gráfico 1 – Eleitorado de Roraima, 2002-2018
(Fonte: TSE (BRASIL, 2021))

É importante ressaltar que, a expansão do colégio eleitoral de Roraima, no período da pesquisa 59,9%, não foi ocasionada apenas pelo aumento vegetativo da população nativa. É também, como explica Santos (2022), resultado da entrada de um fluxo migratório, no subsistema político estadual, que começou a chegar em Roraima nos anos 1990.

Na competição partidária, do período 2002-2018, 39 legendas disputaram as eleições para os legislativos estadual e federal. Dessas, 43,6% conseguiram obter 5% ou mais de votos nas eleições para a Câmara dos Deputados e 56,4% nas eleições para a Assembleia Legislativa.

Agrupando os votos dos partidos por blocos ideológicos, esquerda, centro e direita, observa-se, nos gráficos abaixo, que as siglas à direita reuniram, na disputa pelos cargos legislativos, as maiores votações em todos os pleitos realizados no período.

Na concorrência para a Assembleia Legislativa (Gráfico 2), o menor percentual de votos recebidos pela direita foi em 2014, com 52%. Acontecendo também na disputa para a Câmara dos deputados (gráfico 3), com 45,4% dos votos registrados nessa eleição. O centro, à exceção da eleição de 2002, foi mais competitivo na disputa pela Câmara Federal, embora os resultados adquiridos não ameaçassem a hegemonia da direita na competição eleitoral do estado. O melhor desempenho do bloco de centro foi em 2014, quando conseguiu, no escrutínio, 28% dos votos destinados à Câmara. Já nos sufrágios para a Assembleia Legislativa, seu melhor desempenho foi em 2018, quando aglutinou 20,8% dos votos no escrutínio. A esquerda, por seu turno, teve crescimento nas eleições para a Assembleia até 2014, quando o bloco de partidos progressistas obteve votação importante de 32,3%. Mas, em 2018, com a onda bolsonarista que se alastrou pelo país, a esquerda roraimense recebeu dos eleitores do estado votação menor, caindo para 20,4% na preferência pelo legislativo estadual. Também, perdeu força nas eleições para o legislativo federal, quando reduziu pela metade sua participação entre as duas últimas eleições do período; passando de 26,6% de votos, em 2014, para 13,4% em 2018.

Gráfico 2 – Porcentagem de votos dados em Roraima a partidos de esquerda, centro e direita, eleições para deputado estadual, 2002-2018
(Fonte: Elaboração própria com base nos dados do TSE (Brasil, 2021))
Gráfico 3 – Porcentagem de votos dados em Roraima a partidos de esquerda, centro e direita, eleições para deputado federal 2002-2018
(Fonte: Elaboração própria com base nos dados do TSE (Brasil, 2021))

Na disputa para o cargo de governador (gráfico 4), a direita foi quase unânime na preferência dos eleitores em 2002, registrando 99,7% dos votos. Em 2006, seu percentual de votos, comparado ao pleito anterior, foi muito baixo, apenas 3,1%. Em 2010, com 47,6%, voltou a ter força eleitoral, rivalizando com o centro a disputa pelo cargo político. Em 2014, embora tenha permanecido com densidade eleitoral, os votos da direita somaram menos do que os votos da esquerda no primeiro turno. Foram 41,5% de votos dados à direita contra 58,5% de votos dados à esquerda. Em 2018, o bloco de direita voltou a ser majoritário, recebeu 56,9% dos votos e elegeu, como governador, no segundo turno, Antônio Denarium pelo PSL. Na seria exagero afirmar que, das eleições realizadas no período, a de 2018 foi a mais influenciada pela disputa nacional na decisão do voto.

Quanto à soma de votos adquiridos pelo centro, o melhor resultado foi em 2006, com o ganho eleitoral de 93%; seguido da eleição de 2010 com 45%. No gráfico 4 nota-se também que o centro não recebeu votação em 2002 e em 2014. E a esquerda foi mais expressiva no ano de 2014 (58,5% de votos); declinando sua participação no ano de 2018, para 4,3% de votos, reflexo das razões apresentadas na análise das eleições legislativas. Destaca-se, ainda, que a esquerda, mesmo em um período de controle do poder Executivo nacional, nunca elegeu, em Roraima, governador.

Gráfico 4 – Porcentagem de votos dados em Roraima a partidos de esquerda, centro e direita, eleições para governador (1º turno), 2002-2018
(Fonte: Elaboração própria com base nos dados do TSE (Brasil, 2021))

No tocante às eleições para o Senado Federal, a disputa foi mais equilibrada, com os três blocos de partidos elegendo representantes por Roraima no período. O gráfico 5 mostra a votação dos blocos partidários para o Senado entre 2002 e 2018. Com os resultados adquiridos em 2002 (36,4%), 2010 (50,7%) e 2014 (47,2%), a esquerda roraimense conseguiu elegeu os senadores Augusto Botelho (PDT), Ângela Portela (PT) e Telmário Mota (PDT), respectivamente. O centro, com perfil de lideranças mais conservadoras, elegeu o ex-governador do antigo território federal de Roraima, Romero Jucá, em 2002 (PSDB) e em 2010 (PMDB). Romero Jucá tornou-se, nesse período, um dos expoentes da política nacional. Foi líder, no Congresso, dos governos Lula, Dilma e Temer e ministro nos governos Lula e Temer. E a direita sufragou os nomes de Mozarildo Cavalcanti (PTB) em 2006 e de Chico Rodrigues (DEM) e Mecias de Jesus (PRB) em 2018. Esses últimos foram eleitos surfando na onda bolsonarista. Acrescenta-se, ainda, que o senador Chico Rodrigues (DEM) ficou nacional conhecido após o escândalo de ter sido flagrado escondendo dinheiro na cueca durante uma operação da Polícia Federal realizada em outubro de 2020 (MACHADO, 2021).

Gráfico 5 – Porcentagem de votos dados em Roraima a partidos de esquerda, centro e direita, eleições para senador (1º turno), 2002-2018
(Fonte: Elaboração própria com base nos dados do TSE (Brasil, 2021))

Nas eleições para presidente da República realizadas em Roraima (gráfico 6), à esquerda teve melhor desempenho em 2002, quando Luiz Inácio Lula da Silva chegou pela primeira vez ao governo federal. O quadro político eleitoral no estado modificou-se em 2006 e em 2010 quando a votação do centro foi maior, mesmo com o governo Lula implantando, no período, programas sociais, como Bolsa Família e Minha Casa, Minha Vida, que atenderam populações de baixa renda por todo o país. Mas, na eleição de 2014, a esquerda conseguiu novamente obteve a maioria dos votos em Roraima, suplantando o centro em 10 pontos percentuais. E a direita, que registrou votação irrisória até 2014, venceu a eleição presidencial de 2018 com 66,2% de votos. Nessa eleição, o PSL de Jair Bolsonaro recebeu do estado de Roraima, a segunda maior votação entre os estados brasileiros, 62,9%, perdendo apenas para Santa Catarina com 65,6%.

Gráfico 6 – Porcentagem de votos dados em Roraima a partidos de esquerda, centro e direita, eleições para presidente da República (1º turno), 2002-2018
(Fonte: Elaboração própria com base nos dados do TSE (Brasil, 2021))

Referências

BRASIL. Tribunal Superior Eleitoral. Eleições anteriores. 2021. Disponível em: https://www.tse.jus.br/eleicoes/eleicoes-anteriores. Acesso em: 5 fev. 2021.

MACHADO, Renato. Flagrado com dinheiro na cueca, Chico Rodrigues reassume mandato no Senado após fim de licença. 8 fev. 2021. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/poder/2021/02/flagrado-com-dinheiro-na-cueca-chico-rodrigues-reassume-mandato-no-senado-apos-fim-de-licenca.shtml. Acesso em: 28 mar. 2022.

SANTOS, Roberto Ramos. Eleições e sistema partidário em Roraima: multipartidarismo e competição política, 1998-2018. In: PAIVA, Denise; PIETRAFESA, Pedro. Sistema partidário, partidos e eleições: tendências e dinâmicas da federação brasileira. Goiana: Editora da PUC-GO, 2022 (no prelo).