Competição Eleitoral no Amazonas

Marilene Corrêa da Silva Freitas, Paula Mirana Sousa Ramos, Breno Rodrigo de Messias Leite e Simone Machado de Seixas

A competição eleitoral no Amazonas põe em foco a relação entre partidos políticos de diferentes forças ideológicas presentes nas eleições de 2002 a 2018. Identificam-se partidos, composições partidárias, coligações e alianças, no espectro de direita, centro e esquerda, para disputar cargos e instituir redes de poder político no Amazonas.

Eleição Presidencial

Nas eleições para Presidente da República de 2002 a 2018 no Amazonas destaca-se a esquerda como a principal força ideológica a liderar o pleito:

Gráfico 1 – Votação no Amazonas para Presidente da República
(Fonte: Dados TSE)

Em 2002 concorreram à presidência do Brasil seis candidatos de diversos partidos políticos. Foram para o segundo turno dois candidatos; o candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que obteve 69% dos votos válidos, tornou-se o presidente mais votado na história do país; seu oponente José Serra (PSDB) obteve 30% dos votos válidos. O gráfico 1 mostra o Partido dos Trabalhadores, partido de esquerda, em votação expressiva no estado do Amazonas.

Nas eleições de 2006, o candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disputou a reeleição da presidência com Geraldo Alckmin (PSDB) levando a decisão para o segundo turno. No Estado do Amazonas, o candidato do PT obteve 78% dos votos válidos sobre o seu adversário político. Com este resultado o partido de esquerda é a força ideológica que lidera a competição eleitoral.

Em 2010, foi lançada a candidatura de Dilma Rousseff (PT) para concorrer às eleições para o cargo de presidente da República. Nesta disputa, a candidata do PT teve como adversário direto o candidato tucano José Serra (PSDB). A candidata petista venceu o candidato tucano com 80,57% dos votos no Estado do Amazonas; José Serra obteve apenas 43,95% dos votos consagrando mais uma vez o partido de esquerda nestas eleições.

Em 2014 o partido de esquerda lidera mais uma vez a votação, com a eleição da candidata Dilma Rousseff (PT) à presidente do Brasil; seu adversário direto, Aécio Neves (PSDB) foi derrotado com 65% dos votos válidos. Neste ano, a candidata do PT venceu nos 62 municípios do Estado do Amazonas.

Em 2018 se apresenta um novo cenário no Brasil, marcado pelo impedimento à presidente Dilma, e no Amazonas com a consolidação dos poderes Executivo e Legislativo pelas forças ideológicas de direita. O gráfico 1 mostra o salto da direita em ascensão em ano eleitoral posterior ao de 2014. O atual presidente Jair Bolsonaro venceu as eleições apenas em três municípios do Estado do Amazonas. O candidato Fernando Haddad (PT) venceu a eleição em 59 dos 62 municípios, obtendo 875.845 ou cerca 91,81% dos votos válidos. Sublinhe-se a considerável concentração e centralização populacional em Manaus e na região metropolitana que a compõe, para este resultado. Apesar do candidato do PT ter vencido na maioria dos municípios amazonenses, ele não conseguiu derrotar Jair Bolsonaro com a força da concentração da população votante na capital; o candidato de direita obteve 885.401 votos na capital, vencendo as eleições presidenciais, e consolidando a vitória da força política de direita no Amazonas.

Leite (2022) assinala o curioso padrão eleitoral do eleitor amazonense, o fato de nunca ter perdido uma eleição presidencial desde 1989! Assim, se a esquerda se manteve vitoriosa nas eleições para Presidente da República desde 2002 a 2014 no Amazonas, tal resultado deve ser atribuído muito mais a reafirmação de um padrão de comportamento eleitoral em eleições presidenciais, de inclinação governista, do que a adesão programática ao espectro ideológico de esquerda. Mesmo assim, a preferência pelo candidato do PT reflete a força do partido na competição partidária nacional. Em 2018, apesar do candidato da extrema-direita vencer as eleições presidenciais, houve uma polarização desses votos entre a capital e o interior, onde o candidato da direita venceu as eleições com 686.999 dos votos, com o peso eleitoral de Manaus, perdendo na maioria dos municípios que compõem o Estado.

Gráfico 2 – Votação no Amazonas para Governador
(Fonte: Dados TSE)

Eleição para Governador

Nas eleições de 2002 para o governo do Estado do Amazonas, cinco candidatos concorreram ao cargo de governador representando as composições partidárias, PPS, PMDB, PPB, PT e PSTU. A disputa ocorreu em um único turno, onde o candidato Eduardo Braga (PPS) obteve 52,38% dos votos válidos, contra seu oponente Gilberto Mestrinho (PMDB) com apenas 20,85% dos votos. A eleição do candidato de um partido de esquerda que abrigou um candidato de direita, revela o enfraquecimento do PMDB neste pleito, que apresentou o pior desempenho entre todas as eleições estudadas.

No pleito de 2006 concorreram ao cargo de governador do Estado do Amazonas sete candidatos. A disputa foi decidida em único turno, onde o governador Eduardo Braga (PMDB) se reelegeu obtendo 50,63% dos votos válidos, contra seu principal oponente Amazonino Mendes (PFL) que obteve apenas 40%. Neste pleito, o PMDB retoma seu protagonismo nas eleições regionais no Amazonas, ao firmar a candidatura de Eduardo Braga, recuperando o capital político perdido em eleição anterior.

Em 2010, a disputa ocorreu em dois turnos. No segundo turno, o candidato Omar Aziz (PMN), obteve 63,87% dos votos contra os 25,91% dos votos do ex-prefeito Alfredo Nascimento (PR). O PMN, partido de centro-direita, apresentou maior projeção na competição eleitoral apenas nestas eleições, em virtude da filiação do então governador Omar Aziz, nos outros pleitos estudados não apresentou bom desempenho.

Em 2014, sete candidatos concorreram ao cargo de governador, tendo sido eleito, em segundo turno, o candidato do PROS, José Melo, que obteve 55,54% dos votos contra 44,46% do candidato do PMDB, Eduardo Braga, ambos candidatos de partidos de direita. O cenário de 2014 repete o padrão eleitoral do pleito anterior, reelege José Melo, então governador, após a renúncia de Omar Aziz para concorrer ao senado. Ou seja, repete-se o rearranjo de forças locais no sentido de permanência destes quadros no poder. É interessante ressaltar, a participação do PMDB que se destaca como um dos partidos mais competitivos das eleições estaduais.

Em 2018, sete candidatos concorreram ao cargo de governador, sendo eleito, em segundo turno, o estreante na carreira política que jamais disputara um cargo eletivo, Wilson Lima (PSC), que obteve 58,50% dos votos, contra 41,50% do candidato Amazonino Mendes (PDT). A decisão deste pleito reflete o impacto de vários episódios políticos na conjuntura nacional: a deposição da Presidente Dilma Roussef, a crescente rejeição ideológica ao PT, a condenação moral dos governos deste partido de esquerda e seus aliados permitem ao movimento conservador de extrema direita, liderado por Jair Bolsonaro, influenciar na tendência do eleitorado de rejeitar candidatos tradicionais, optando por políticos estreantes que se beneficiam do crescimento deste movimento e do antipetismo. Esta tendência se reflete na disputa dos candidatos ao segundo turno.

A vitória de Wilson Lima representou um ponto de ruptura na tradicional elite amazonense. Afinal, foi a primeira vez em décadas que um político outsider e sem o apoio dos grandes líderes conseguiu ser eleito para o cargo de governador. A sua eleição se deve fundamentalmente a dois fatores: em primeiro lugar, devemos destacar a crise no coração da elite local que não mais conseguiu se renovar – Wilson Lima derrota Amazonino Mendes, quatro vezes ex-governador e com elevado índice de rejeição. Em segundo lugar, podemos apontar o efeito Bolsonaro que combinado ao lavajatismo puderam construir uma agenda assertivamente anti-PT. Wilson Lima, um homem oriundo dos meios de comunicação, soube ler com atenção os dois cenários que se apresentavam.

Em relação ao espectro ideológico, as eleições para o cargo de governador apresentam uma tendência à direita e à centro-direita. Entre os partidos que tiveram melhor desempenho nas eleições para o cargo de executivo estadual, o PMDB, partido de direita, teve importante representatividade entre os candidatos mais bem votados nas eleições estudadas. Observamos também, a projeção de partidos “nanicos” como o PMN e o PROS que apresentaram maior competitividade eleitoral através da presença dos então governadores que buscavam sua reeleição.

Eleição para Senador

No pleito de 2002 para o cargo de Senador da República, sete candidatos concorrem às eleições ao senado. O candidato Arthur Virgílio (PSDB) foi eleito com 608.767 votos equivalente a 29,41% representando o partido de direita; e Jefferson Peres (PDT) eleito com 26,24% dos votos válidos representando partido de centro esquerda. Nesta eleição os candidatos eleitos estão alinhados à espectros ideológicos opostos de direita e centro-esquerda. No ano de 2006, o candidato Alfredo Nascimento (PL) garantiu uma vaga no Senado, com 626.606 de 47,49% do total de votos. Nesse ano, o segundo mais votado foi Pauderney Avelino (PFL) que concentrou 21,81% dos votos nas urnas. Os amazonenses demonstram um alinhamento à direita nesta disputa ao senado.

Gráfico 3 – Votação no Amazonas para Senador por bloco partidário
(Fonte: Dados TSE)

Para as eleições de 2010 a 2014, conforme o gráfico ilustra, apresenta-se uma oscilação entre partidos da direita, centro e esquerda. Entretanto, na eleição do ano de 2010, os candidatos mais votados que se elegeram ao senado foram Eduardo Braga (PMDB), o mais votado com cerca de 42,07% dos votos, e Vanessa Graziotin (PCdoB) para a segunda vaga com 22,89%. Nota-se uma polarização no alinhamento ideológico dos eleitores da região consolidando a competitividade eleitoral do PMDB que é vista, também, nas eleições para outros cargos no Amazonas, e a presença de um partido tradicional de esquerda, o PC do B.

Em 2014, Omar Aziz (PSD) foi eleito ao senado com 58,51% dos votos. Nesta eleição, os amazonenses estavam alinhados a um partido de direita, sua escolha em muito revela uma estratégia fortemente utilizada neste período, onde os governadores renunciavam aos cargos para concorrer ao senado, sendo capitaneados pela legitimação alcançada através do executivo estadual.

Já no pleito de 2018, as duas vagas para o Senado Federal foram preenchidas por Plínio Valério (PSDB) e Eduardo Braga (MDB). O candidato Eduardo Braga foi reeleito pelos partidos de direita alinhados a esta sigla. Plínio Valério obteve 834.809 votos, cerca de 25,36%; Eduardo Braga obteve 607.286, 18,36% dos votos. Na conjuntura nacional conservadora que elegeu Jair Bolsonaro à Presidência da República, os candidatos eleitos ao Senado revelam uma tendência de alinhamento à direita do eleitorado amazonense.

Eleição para Deputado Federal no Amazonas

O Estado do Amazonas elege oito candidatos para compor a Câmara dos Deputados. O gráfico 4, abaixo representado, mostra que de partidos de direita como PF e PL elegeram em 2002 75% dos deputados federais. Os candidatos de esquerda e de centro-direita do PT e do PTB, constituem, respectivamente, 12,50% desta bancada.

No pleito de 2006 são eleitos 50% dos candidatos da direita, 25% da esquerda, 12,50% de deputados de centro-esquerda e direita. Em 2010, a bancada federal é de 75% de partidos da direita e 12,50% de partidos da esquerda e do centro-direita. Observa-se nestes pleitos que o predomínio da escolha dos amazonenses para deputado federal é de candidatos oriundos de partidos políticos de espectro de direita, tais sejam o PFL, PMDB e PP.

Gráfico 4 – Votação no Amazonas para D.F por bloco partidário
Fonte: Dados TSE

A partir das eleições de 2014 a bancada federal foi composta por cinco novos candidatos eleitos e três candidatos reeleitos; os partidos de direita são os mais presentes nessa eleição com 87,50% dos eleitos, sendo 7 candidatos a 1; ou seja, apenas um candidato de partido de centro (12,50%) se reelegeu. De 2014 a 2018 foram eleitos novos deputados, representantes ideológicos de partidos de direita. Na eleição de 2018 a bancada federal ficou configurada com 75% deputados federais de direita, e 12,50% de candidatos de esquerda e centro-esquerda.

Neste sentido, os dados do TSE revelam no período de 2002 a 2018 que a formação da bancada de deputados federais do estado do Amazonas apresenta predominância do espectro ideológico ligado à direita e a centro-direita; o PP foi o partido que apresentou maior representatividade com deputados na maioria dos pleitos durante o período citado.

Eleição para Deputado Estadual no Amazonas

No Estado do Amazonas são eleitos 24 candidatos a deputados estaduais para compor a Assembleia Legislativa do Estado. Na eleição de 2002 os eleitores elegeram 75% da bancada de deputados estaduais de partidos políticos da direita e apenas 20,83% dos candidatos de esquerda e 4,17% candidatos de centro. Assim, o maior destaque foi da bancada de políticos da direita com os partidos PL, PFL, PMDB e PSDC.

No ano de 2006 os partidos de direita obtiveram 54,17%; os partidos de esquerda 12,50%; os partidos de centro-direita 25%; e 4,17% de centro-esquerda. Nas eleições de 2010, foram eleitos 58,33% deputados de direita, 4,17% de centro, 25% de centro-direita e 12,50% de esquerda. É possível observar nessas duas eleições o predomínio dos partidos de espectro de direita e centro-direita. O percentual de candidatos eleitos da esquerda manteve continuidade em ambas as eleições.

Gráfico 5 – Votação no Amazonas para D.E por bloco partidário
(Fonte: Dados TSE)

Em 2014 foram eleitos 62,50% deputados de direita, 8,33%, de centro, 8,33% de centro-esquerda e 12,50% de esquerda. Os partidos de direita e centro-direita mantiveram predomínio, apresentando um equilíbrio de forças entre centro e centro-esquerda, com o mesmo percentual, esse processo se deve em muito pela própria formação das coligações que lançaram os principais candidatos ao governo do Estado: Eduardo Braga e José Melo. Em torno do potencial eleitoral de Eduardo Braga, que perdeu a eleição para José Melo, alinhavam-se partidos de diferentes espectros ideológicos, como o caso do PMDB, PT, PPS e PC do B . José Melo é cassado pela justiça eleitora dois anos depois.

Nas eleições de 2018 foram eleitos 45,83% de direita, 16,67% de centro, 25% de centro-direita e 12,50% de esquerda, conforme ilustra o gráfico acima. Em 2018, ocorre a presença de uma competição eleitoral repleta de partidos “nanicos” que surgem na arena eleitoral, através do desempenho individual de novas lideranças políticas, com resultado eleitoral expressivo como é o caso dos deputados estaduais Roberto Cidade, o atual presidente da Assembleia Legislativa, e o deputado Carlinhos Bessa, 1º vice-presidente da Assembleia Legislativa do Amazonas, ambos do PV. Os partidos do espectro de esquerda mantiveram a continuidade percentual nas eleições estudadas.

Os dados do TSE referentes às eleições que compreendem o período entre 2000 a 2018 revelam que o eleitor amazonense apresenta um forte alinhamento ao espectro ideológico de direita e centro-direita. Tal fato reflete fidelidade eleitoral às tradicionais lideranças políticas, como Amazonino Mendes, Eduardo Braga, Omar Aziz. Em relação ao espectro de esquerda nota-se um maior alinhamento na escolha para o cargo de presidente da república, durante o período estudado, no qual o PT venceu todas as eleições no estado do Amazonas, exceto em 2018. A emergência de outsiders, em 2018, é um reflexo da conjuntura nacional que apresentou a possibilidade do surgimento de novas lideranças em virtude do impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT) em 2016 e eleição do candidato de extrema-direita Jair Messias Bolsonaro (PSL), em nível nacional assim como são observados a eleição de Wilson Lima (PSC) para governador e Joana D´arc (PR) eleita para o cargo de deputada estadual do Amazonas.