Breve análise das pré-candidaturas à Prefeitura de Macapá (2024)

Ivan Silva, Paulo Gustavo Correa, Marcus Cardoso, Clarisse Dias, Claudiane Araújo

1. Apresentação

Embora o cenário ainda não esteja consolidado, seis nomes foram, até aqui, apresentados enquanto pré-candidaturas à Prefeitura de Macapá para a eleição de outubro: Dr. Furlan (MDB), Josiel Alcolumbre (União Brasil), Jesus Pontes (PDT), Paulo Lemos (PSOL), Aline Gurgel (Republicanos) e Patrícia Ferraz (PSDB). Além do fato de que o atual prefeito, Dr. Furlan, disputará a reeleição em um cenário de forte aprovação popular e larga vantagem nas pesquisas de intenção de voto – 74,3% contra apenas 5% do segundo colocado, de acordo com pesquisa do instituto Paraná Pesquisas, de 23 de maio[1] –, outro fator merece destaque: das seis pré-candidaturas apresentadas, cinco são de partidos que compõem a base do governador Clécio Luís (Solidariedade), e duas delas são de ex-secretários estaduais: Paulo Lemos e Aline Gurgel – além de Josiel Alcolumbre, que foi nomeado presidente do Conselho Deliberativo do Sebrae Amapá. A única candidatura de fora do amplo arco de alianças do governador do Amapá é, de fato, a candidatura à reeleição do prefeito de Macapá, Dr. Furlan.

Do ponto de vista ideológico, considerando a atual clivagem predominante do ponto de vista nacional, a maior parte das lideranças que colocaram seus nomes à disposição para a disputa de outubro cerraram fileiras junto ao bolsonarismo amapaense em 2018 e em 2022, com exceção dos pré-candidatos do PSOL e do PDT.

Embora o franco favorito seja o atual prefeito, há duas outras pré-candidaturas (que aparecem, respectivamente, em segundo e terceiro lugares na pesquisa do dia 23 de maio) que possuem o potencial de crescimento – ainda que modesto e limitado: Josiel Alcolumbre e Paulo Lemos.

2. A pré-candidatura de Dr. Furlan (MDB)

O atual prefeito de Macapá nasceu na Costa Rica, em 1973. Médico cardiologista, iniciou sua trajetória política no Amapá em 2010, quando concorreu, pela primeira vez, ao cargo de deputado estadual pelo PTB. Embora não tenha sido eleito, ficou na condição de suplente, e, com o falecimento do deputado Ocivaldo Serique Gato (PTB), assume uma cadeira na Assembleia Legislativa do Amapá (ALAP) em 2013, e se elege por duas vezes para a ALAP nas eleições de 2014 e 2018. Dentro da ALAP, Dr. Furlan foi nomeado líder do governo de Waldez Góes (PDT) em 2016, embora tenha, posteriormente, rompido com ele.

Eleito prefeito de Macapá em 2020, pelo Cidadania, Dr. Furlan foi o protagonista de uma eleição bastante sui generis: não apenas a disputa eleitoral se deu em meio a uma das piores fases da Pandemia de COVID-19 no Amapá, mas esteve envolta, ainda, com o drama do apagão que atingiu o estado por 22 dias.

Inicialmente figurando na terceira posição em todas as pesquisas de intenção de voto – atrás tanto de Josiel Alcolumbre quanto de João Capiberibe (PSB) – duas figuras vinculadas a importantes dinastias políticas estaduais –, Dr. Furlan foi paulatinamente crescendo nas intenções de voto, tanto mobilizando o desgaste das principais figuras políticas do Amapá durante o apagão, quanto emulando uma identificação discursiva e semântica com o bolsonarismo (vitorioso no Amapá e em Macapá em 2018 e em 2022).

Embora o bolsonarismo siga angariando adesões no Amapá, o prefeito de Macapá tem buscado se distanciar na nacionalização da disputa na capital, centrando sua estratégia – por ora – em instrumentalizar seus altos índices de aprovação popular no município.

3. A pré-candidatura de Josiel Alcolumbre (União Brasil)

Josiel Alcolumbre é irmão do Senador Davi Alcolumbre (União Brasil), e já concorreu à Prefeitura de Macapá em 2020, quando foi derrotado no segundo turno pelo atual prefeito. Nascido em Macapá, em 1973, Josiel vem de uma família bastante tradicional do Amapá (o próprio aeroporto de Macapá leva o nome de seu tio Alberto Alcolumbre). Nome forte do União Brasil, e possivelmente o próximo Presidente do Senado (pela segunda vez), seu irmão, Davi Alcolumbre, é o principal nome da família na política amapaense e brasileira em geral, e, nas últimas eleições municipais foi um potente cabo eleitoral, tendo sucesso em várias das prefeituras do interior do estado com a eleição de seus aliados (dentro e fora do União Brasil).

Atualmente presidente do Conselho Deliberativo do Sebrae Amapá, Josiel concorreu já foi candidato à Prefeitura de Macapá na eleição anterior, quando chegou a ocupar a primeira posição nas pesquisas de intenção de voto – ancorado, naquele momento, fundamentalmente no capital político de seu irmão e no apoio do então prefeito e atual governador Clécio Luís (hoje no Solidariedade e, então, na Rede Sustentabilidade), que, numa reviravolta partidária, decide apoiar o indicado da família Alcolumbre à revelia de seu próprio partido, que havia indicado o advogado Ruben Bemerguy (Rede) como o candidato da situação – fato que culminou em sua saída do partido.

Apesar dos apoios de peso – e, inclusive, de um vídeo enviado, às vésperas do segundo turno, pelo então presidente Jair Bolsonaro, Josiel acabou derrotado por Antônio Furlan em uma eleição cujas principais figuras acabaram, imageticamente, associadas à situação de calamidade derivada do apagão.

4. Paulo Lemos

O candidato do PSOL, Paulo Lemos, também é advogado, e foi deputado estadual por dois mandatos, entre 2015 e 2022, quando foi candidato a deputado federal, e, embora tenha sido um dos 15 candidatos mais votado do Amapá, o PSOL não conseguiu, naquele momento, atingir o quociente eleitoral e garantir uma cadeira.

Com a eleição de Clécio para o Governo do Amapá em 2022 – e evidenciando o amplo arco de alianças que o conduziu à vitória –, Paulo Lemos foi convidado a compor o governo na condição de Secretário de Administração – pasta que ocupou até seu desligamento para concorrer à prefeitura.

Dois elementos merecem destaque, aqui: em primeiro lugar, a candidatura do PSOL aglutinou o campo da esquerda na capital – já que (com exceção do PSB, outrora a principal legenda de esquerda no estado, fortemente vinculada à família Capiberibe) trouxe para seu arco de alianças a maior parte dos partidos tradicionalmente situados à esquerda na política amapaense (o PDT, que também ficou de fora da aliança, tradicionalmente ocupou um espetro à direita do PSB); e, em segundo lugar, Paulo Lemos contará, também, com o apoio do Presidente Lula em sua campanha.

5. Conclusão

O cenário por hora indica que a eleição em Macapá tende a ser decidida fortemente pela dinâmica local, sobretudo considerando os elevados índices de aprovação do atual prefeito. Ainda que haja a tentativa de nacionalização, por parte de Paulo Lemos, e de estadualização, por parte de Josiel Alcolumbre, o controle da máquina municipal, aliado ao amplo arco de alianças construído por Antônio Furlan, devem manter os termos da disputa no âmbito local.

Há, ainda, um traço interessante: ao que tudo indica – se a eleição seguir o cenário construído até aqui –, novamente o peso das principais famílias políticas do estado no resultado eleitoral será muito baixo, como no caso de 2020, embora, ali, tenha havido, pelo menos, duas variáveis intervenientes: a COVID e o apagão. Após três décadas de hegemonia intercalada das famílias Capiberibe e Góes – institucionalmente representadas por PSB e PDT, respectivamente –, o cenário político local parece passar por mudanças consideráveis, tanto no âmbito de Macapá, quanto do próprio estado do Amapá como um todo.


  1. Ver https://www.poder360.com.br/eleicoes/dr-furlan-tem-743-das-intencoes-de-voto-em-macapa-diz-pesquisa/#:~:text=Furlan%20e%20Josiel%20disputaram%20a,ficou%20com%2044%2C33%25..