João Paulo S. L. Viana; Patrícia M. C. de Vasconcellos; Melissa V. Curi; Jamila Martini
1. Introdução
Na atualidade, a política rondoniense apresenta-se como um dos casos mais instigantes entre as unidades federadas brasileiras. Como exposto anteriormente nos boletins especializados produzidos pelo LEGAL, na eleição de 2018, Rondônia foi o único estado em que Bolsonaro (PL), então filiado ao PSL, venceu em todos os 52 municípios nos dois turnos. Feito que se repetiria no primeiro turno de 2022 e, muito provavelmente, se reproduzirá no segundo turno, a ser realizado no dia 30 de outubro próximo. Importante recordar que, também em 2018, o estado elegeu na disputa ao governo, pelo mesmo PSL, o coronel Marcos Rocha (União), à época um outsider da política, que, em sua tentativa de reeleição, disputa a segunda rodada da corrida eleitoral de 2022 contra outro candidato bolsonarista, o senador Marcos Rogério (PL).
O peso da trajetória autoritária e do militarismo ainda exercem forte influência sobre o estado fundado em 1982, nos fins da ditadura militar. Anteriormente, o antigo território federal, criado pelo Estado Novo varguista quatro décadas antes, foi governado por militares nomeados pela presidência durante a maior parte desse período. Paralelamente à construção do novo estado emerge também uma elite política interiorana, concentrada no corredor da rodovia BR-364, oriunda majoritariamente do sul do País. No plano econômico, o agronegócio é responsável por parte significativa do PIB estadual. Rondônia, que detém menos de 1% dos eleitores em nível nacional, possui, proporcionalmente, um dos mais numerosos eleitorados evangélicos da federação. A pauta religiosa, sobretudo os temas da família, dos valores e costumes, conta, inclusive, com demasiada influência na atual conjuntura política rondoniense.
No presente texto analisaremos, especificamente, os resultados da disputa eleitoral de 2022 à Câmara dos Deputados e ao Senado Federal, em Rondônia. Inicialmente, abordamos a composição partidária da nova bancada rondoniense composta por oito assentos na Câmara Federal. Posteriormente, buscamos compreender a disputa para a única vaga ao Senado Federal que, embora denotasse um quadro bastante radicalizado à direita, apresentou uma surpresa nas urnas. Importante mencionar o impacto das novas regras eleitorais na eleição para a diminuição da fragmentação partidária na Câmara dos Deputados. Não obstante, assim como na disputa à ALE-RO, diante de uma conjuntura de concentração de poder à direita. Esses temas serão objetos da análise a seguir.
2. A composição partidária da bancada rondoniense eleita em 2022 para a Câmara Federal
Como exposto acima, historicamente, Rondônia possui uma forte tradição política conservadora. Não obstante, a partir da eleição de 2018 é notória a guinada radical à direita que se acirra com a disputa eleitoral de 2022. Nesse ano, com uma renovação de 62,5% na bancada do estado, nenhum partido rondoniense de esquerda ou centro-esquerda alcançou assento para a legislatura de 2023-2027 na Câmara Federal. Inclusive, um caso interessante é o da deputada Silvia Cristina (PL-RO), eleita pelo PDT em 2018 e reeleita agora pelo PL bolsonarista.
No tocante à fragmentação partidária, se o pleito de 2018 marcou o ápice da proliferação de legendas representadas, com oito partidos ocupando as oito cadeiras rondonienses no parlamento federal, na disputa de 2022 as novas regras em vigor nas eleições proporcionais exerceram um impacto considerável. Embora tenha ocorrido uma redução importante, o quadro partidário radicalizou-se, ao ponto da representação concentrar-se, fundamentalmente, em partidos de direita. O União Brasil e o PL alcançaram quatro e duas cadeiras respectivamente. O tradicional MDB rondoniense, que no estado é comandando por lideranças conservadoras, caracterizando-se como uma legenda de centro-direita, ficou com dois assentos.
Cumpre ressaltar que todos os oito representantes eleitos apoiaram no estado a candidatura à presidência de Jair Bolsonaro (PL), inclusive, os dois parlamentares emedebistas. Desde o ano de 2002, início da série histórica de eleições em Rondônia analisada pelo LEGAL, essa é a primeira disputa em que legendas rondonienses de esquerda e centro-esquerda não alcançam representação no parlamento federal. Com o pífio desempenho do campo progressista obtido também no pleito para a ALE-RO, o resultado da eleição rondoniana à Câmara dos Deputados expõe o esfacelamento da esquerda no estado, diante de uma iminente radicalização ultraconservadora dominada por políticos ligados aos setores evangélicos e do agronegócio.
3. A eleição rondoniense em 2022 para o Senado Federal
O quadro ultraconservador se reproduziu também na eleição ao Senado Federal. Dos cinco principais candidatos, quatro eram apoiadores de Jair Bolsonaro. Conforme as três pesquisas IPEC, a deputada federal Mariana Carvalho (Republicanos) esteve à frente durante toda a corrida eleitoral, seguida pelo ex-senador Expedito Júnior (PSD), e a deputada federal Jaqueline Cassol (PP). O atual senador Acir Gurcacz (PDT) aparecia na quarta posição, empatado tecnicamente com Jaime Bagatoli (PL). Entretanto, o resultado foi algo inesperado tendo em vista todas as sondagens de intenções do IPEC. A última pesquisa divulgada no dia 29 de setembro apontava Mariana eleita com 43%, muito à frente de Jaime Bagattoli que ocupava a quinta posição, com apenas 8%. O resultado final apresentou Bagattoli eleito com quase 36% de votos, seguido de Mariana Carvalho, com 32%.
Jaime Bagattoli (PL) é um dos maiores empresários do agronegócio em Rondônia. Com base eleitoral na região do cone sul do estado, bolsonarista radical e outsider da política, Bagattoli candidatou-se pela primeira vez em 2018, quando tentou uma vaga ao Senado, ficando na terceira posição logo atrás do ex-governador Confúcio Moura (MDB), eleito na ocasião para a segunda cadeira em disputa. Até então um ilustre desconhecido da vida político-partidária, Bagattoli foi decisivo para a vitória do atual governador, Cel. Marcos Rocha (União), contribuindo diretamente para o sucesso da campanha de Rocha no interior, em especial, nos municípios situados no corredor da BR-364. À época filiado ao PSL, Bagattoli rompeu com Rocha logo após o pleito, migrando posteriormente para o PL. Nesse ano, aliado do senador Marcos Rogério (PL), Jaime Bagattoli, agora senador eleito, será, novamente, um ator de fundamental importância no segundo turno da disputa, porém, dessa vez, contra seu ex-aliado, Marcos Rocha.
4. Balanço em forma de conclusão
Em Rondônia, a guinada ultraconservadora iniciada na eleição de 2018 se acirrou ainda mais nos últimos quatro anos. De fato, o estado evidencia-se como um dos mais importantes centros bolsonaristas do País, talvez, até mesmo, proporcionalmente, o maior reduto da direita radical brasileira nos dias atuais. Como analisado em outra oportunidade na disputa à ALE-RO, a radicalização conservadora foi observada também nas eleições para Câmara dos Deputados e Senado Federal. Em sua totalidade, políticos ultraconservadores foram eleitos para representar o povo rondoniense e o estado em Brasília, em ambas as casas legislativas.
Diante de um segundo turno também bolsonarista ao executivo estadual, entre dois candidatos de extrema direita, Marcos Rocha (União) e Marcos Rogério (PL), as perpectivas para a perpetuação de uma agenda radicalizada são iminentes. Principalmente, em caso de reeleição de Jair Bolsonaro (PL), na disputa presidencial. Todavia, ao campo progressista no estado resta a possibilidade de vitória de Lula (PT) que lidera as pesquisas no segundo turno à presidência. Não obstante, seja qual for o resultado, a esquerda moderada rondoniense precisa se reorganizar para as eleições municipais de 2024. Mas, certamente, uma vitória de Lula no plano nacional poderia contribuir para a reformulação de atores e estratégias, no intuito de construir uma oposição competitiva em Rondônia, que a médio, longo prazo, possa fazer frente à agenda de extrema-direita que avança no âmbito estadual.