A ORGANIZAÇÃO DOS GABINETES DAS SECRETARIAS DE MEIO AMBIENTE E SEGURANÇA PÚBLICA NO AMAZONAS: PERFIS, AGENDA E POLÍTICAS PÚBLICAS

Marilene Corrêa da Silva Freitas, Ludolf Waldmann Júnior, Paula Mirana Sousa Ramos, Breno Rodrigo de Messias Leite, Simone Machado de Seixa, Tereza de Sousa Ramos

INTRODUÇÃO

Os gabinetes das secretarias desempenham um papel fundamental na administração pública direta e indireta nas unidades subnacionais, prefeituras municipais e governos estaduais. Suas responsabilidades públicas englobam áreas específicas, como formulação, execução e gerenciamento das políticas públicas na jurisdição estadual. Cabe à equipe de secretários, indicados e subordinados ao governador, realizar o plano de governos apresentado pelo chefe do Poder Executivo estadual e prestar conta quanto à execução do orçamento delegado às pastas.

A relevância dos secretários estaduais está tanto na distribuição de cargos (incluindo o próprio gabinete), visando atender aliados e obter coalizões governamentais, como também na formulação, consecução e gerenciamento das políticas públicas que atendam às necessidades e as demandas dos cidadãos. A habilidade de coordenar políticas eficazes pode ter um impacto significativo no desenvolvimento regional, na qualidade de vida dos cidadãos e na competitividade econômica da unidade estadual.

Dentro do escopo estratégico do secretariado, inclui-se, também, a aplicação de projetos nas áreas de saúde, educação, segurança pública, infraestrutura, meio ambiente, entre outros setores estratégicos. Secretários são responsáveis pela supervisão e alocação de recursos orçamentários, assim como garantem a efetivação da política pública em estreita colaboração com outras agências, como o Poder Legislativo, o Ministério Público, os órgãos de controle e a sociedade civil.

Assim, o foco deste boletim é examinar a formação do secretariado estadual de Meio Ambiente e de Segurança Pública do Amazonas desde o início do governo de Wilson Lima (2019-2024).

ESTRUTURA DA SECRETARIA DE ESTADO DO MEIO AMBIENTE (SEMA)

A política pública de controle da atividade ambiental no Amazonas teve início em 1978, com a criação da Secretaria de Estado do Planejamento e Coordenação Geral (SEPLAN) e executadas pela Comissão de Desenvolvimento do Estado do Amazonas (CODEAMA).

A Lei da Política Ambiental do Estado, a primeira do estado, foi publicada em 1982 (Lei 1.532), no contexto da transição para a democracia e emergência da agenda ambiental no país, então amplamente abordada pela comunidade internacional a partir da Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano, conhecida como Conferência de Estocolmo (1972).

O Instituto de Desenvolvimento dos Recursos Naturais e Proteção Ambiental do Estado do Amazonas (IMA/AM), instituído em 1989, consolidou um modelo de política ambiental com foco no monitoramento e controle sistemático das atividades ambientais. Foi substituído, em 14 de dezembro de 1995, pelo Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas (IPAAM). A partir de então, este órgão passou a coordenar e executar, exclusivamente, a Política Estadual do Meio Ambiente. Pode-se dizer que o IPAAM passou a funcionar como uma autarquia estadual vinculada à Secretaria de Meio Ambiente do Estado do Amazonas. É órgão componente do Sistema de Meio Ambiente da citada Secretaria, tendo como finalidade a gestão ambiental, a implementação e a execução das políticas nacional e estadual de meio ambiente.

Sua estrutura da secretaria de Estado foi definida nos termos da lei pelo Decreto nº 17.033, de 11 de março de 1996. A partir de fevereiro de 2003, o IPAAM passou a ser vinculado à Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (SDS, hoje SEMA). Portanto, órgão foi oficializado como o executor da Política de Controle Ambiental do Estado do Amazonas. Desta maneira, a estrutura organizacional da política ambiental do Amazonas está assentada na administração direta da Secretaria de Estado do Meio Ambiente (SEMA) e pela administração indireta do (IPAAM).

Quadro 1: Organograma do SEMA-AM
Diagrama

Descrição gerada automaticamente
Fonte: Disponível em:< http://meioambiente.am.gov.br/a-secretaria/organograma/> Acesso em: 10 abr. 2024

O estado do Amazonas tem registro de uma política ambiental ousada, especialmente entre 2003-2010, período em que foi formulada, implementada e legitimada como política pública com grande dimamismo e interlocução em âmbito nacional e internacional. Em particular, o esse momento foi marcado pela inserção do Amazonas no Sistema Nacional de Unidades de Conservação e a criação do Sistema Estadual de Unidades de Conservação a política ambiental ganhou organicidade e institucionalidade gerida pala Secretaria Estadual do Meio Ambiente. São 42 Unidades de Conservação (UCs), das quais 34 são classificadas como de uso sustentável e 8 de proteção integral. Representam 12,3% da área do estado.

O protagonismo da política ambiental do estado não existe mais e a sua execução foi prejudicada devido a conjuntura adversa do período Bolsonaro (2019-2022), em acordo com o governo Wilson Lima. O contexto atual dessa política é de grandes tensões e contradições do ponto de vista da opinião pública e da crítica acadêmica das ciências ambientais. As intervenções humanas em grande escala foram na maior parte movimentadas por atividades econômicas marginais, extrativismo predatório, redução da proteção ambiental com atitudes oficiais de permissividade de crimes, ilícitos ambientais e grilagem. O aumento de taxas de desmatamento, incêndios florestais induzidos por atividades criminosas, somam-se ao agravamento de fenômenos naturais de extremos clímáticos, com acentuação nas dinâmicas de cheias e vazantes dos rios, aumento de temperaturas, poluição hídrica, entre outros, com impactos visíveis sobre biomas, ecossistemas e sobre a relação das populações amazônicas com a natureza.

Desta maneira, constata-se desequilíbrio e enfraquecimento institucional progressivo de órgaos e instituições criados para proteção e controle da política ambiental; perdas consideráveis propiciadas por negigência da política federal e estadual, bem como por indução à práticas de violência ambiental. Este cenário se agrava quando consideramos a inexistência de debates politico partidários sobre a situação da política ambiental; há permissividade acrítica de licenciamentos e controle duvidável sobre a grilagem de terras públicas. A execução de agendas ambientais é de importância reduzida e de pouca expressão nos meios de comunicação local pelo fato de não expressar a relevância nos processos estruturais da situação ambiental contemporânea. Perda de centralidade no debate e perda de foco e prestígio na interlocução, na execução dos objetivos para os quais são criados, e na rotina do comando e controle da política ambiental é o retrato do momento.

SECRETÁRIO DO MEIO AMBIENTE DO ESTADO DO AMAZONAS (SEMA)

Eduardo Costa Taveira (secretário de 2019 até o momento)

Eduardo Costa Taveira foi escolhido para a pasta do Meio Ambiente no primeiro gabinete do governador Wilson Lima (então no PSC), logo após a sua eleição em 2018. Na época, Taveira era Superintendente Técnico Científico da Fundação Amazonas Sustentável (FAS), uma organização não governamental criada a partir de uma parceria do governo do estado do Amazonas com o banco Bradesco no fim de 2007.[1] Com um perfil mais técnico, ele teve experiência anterior em órgãos públicos e privados.

Taveira nasceu no Rio de Janeiro, mas ainda na infância mudou-se para o Amazonas.[2] Formado em Ciências Sociais (2000) na Universidade Federal do Amazonas (UFAM), também é mestre (2010) em Ciências do Ambiente e Sustentabilidade na Amazônia pela mesma instituição, além de possuir especialização em Desenvolvimento Sustentável na Amazônia (2004) pela Faculdade Salesiana Dom Bosco (FSDB) de Manaus. Desde sua graduação, desenvolveu estudos com foco na agenda ambiental, particularmente sobre biopirataria, políticas públicas sobre desenvolvimento sustentável e gestão de resíduos.

Antes de assumir a secretaria, Taveira foi assessor técnico na Secretaria Municipal de Limpeza Pública (SEMULSP) de Manaus, entre 2005 e 2009, onde atuou como Chefe do Núcleo de Mobilização Comunitária e Educação Ambiental. Posteriormente, ocupou diversos cargos, como diretor de projetos e chefe de gabinete, na Secretaria de Estado de Ciência, Tecnologia e Inovação do Amazonas (SECTI/AM) durante o governo de Omar Aziz (2010-2014, inicialmente no PMN e depois no PSD), participando de diversos conselhos, comitês e consultorias relacionados ao desenvolvimento sustentável e política científica regional. Entre 2011 e 2013 foi Secretário Executivo Adjunto da pasta e, a partir de 2014, tornou-se superintendente na FAS.

Assumiu a Secretaria de Estado do Meio Ambiente do Amazonas (SEMA) em janeiro de 2019 e desde então passou a ocupar outros postos relevantes, como a presidência do Fórum de Secretários do Meio Ambiente da Amazônia Legal e a vice-presidência da Associação Brasileira de Entidades Estaduais de Meio Ambiente (ABEMA).

No que tange à política ambiental, o primeiro governo Wilson Lima (2019-2022) em grande medida ecoou as posições da presidência Bolsonaro, o que gerou significativas críticas de segmentos da sociedade civil. O Amazonas, em 2021, tornou-se o segundo estado com maior desmatamento na Amazônia Legal (um aumento de mais de 50% em relação ao ano anterior) e o governo estadual foi acusado de negligenciar as políticas de fiscalização e combate ao desmatamento. O próprio governador, em algumas ocasiões, deu discursos polêmicos a favor do garimpo e de madeireiros.[3]

Em 2022, Lima, agora no União Brasil, foi reeleito. Seu programa, no que tange à pauta ecológica, trouxe uma política ambiental vaga, pese o fato de que as eleições ocorreram em meio à uma seca histórica e altas taxas de desmatamento.[4] Apesar de alterações importantes na composição de seu gabinete, o governador manteve Taveira na SEMA.[5] Nesse sentido, houve uma continuidade das políticas ambientais que, novamente, foram alvo de duras críticas por especialistas e segmentos da sociedade civil, especialmente em momentos de crise como nas queimadas que ocorreram ao final de 2023 e deixaram a capital do estado sob uma densa onda de fumaça.[6]

ESTRUTURA DA SECRETARIA DE ESTADO DA SEGURANÇA PÚBLICA (SSP-AM)

Criada em 2005, a Secretaria de Estado de Segurança Pública do Amazonas (SSP-AM) coordena e gerencia o sistema de segurança pública, que tem como integrantes as polícias Civil e Militar, Departamento Estadual de Trânsito (DETRAN), Corpo de Bombeiros, Corregedoria-Geral, Secretaria-Executiva-Adjunta de Inteligência (SEAI), Instituto Integrado de Ensino e Segurança Pública (IESP), nos termos das leis delgadas nº 2, de 14 de abril de 2005; e 59, de 29 de julho de 2005.

É prerrogativa da SSP-AM formular, executar e supervisionar as ações policiais, tendo em vista a aplicação da ordem pública nos termos da lei. É de sua responsabilidade ainda a manutenção de intercâmbio policial com organizações afins, em âmbito nacional e internacional, e pelo acompanhamento, com autoridades constituídas, da aplicação de medidas legais e regulamentares.

A SSP-AM passou a enfrentar grandes desafios nas últimas décadas. O Amazonas entrou no circuito nacional e internacional do narcotráfico, com o crescimento exponencial de facções criminosas, violência urbana, tráfico de drogas e ilícitos ambientais. O sistema de segurança pública, desde então, passou por um processo de reestruturação que tem como foco o trabalho integrado entre os órgãos. As corregedorias e as academias de polícias, por exemplo, passaram a trabalhar de forma unificada, sob a coordenação direta da SSP e o Amazonas foi um dos primeiros estados do Brasil a ter um sistema com setores estratégicos – ensino, correção e inteligência.

Quadro 2: Organograma do SSP-AM
Uma imagem contendo Linha do tempo

Descrição gerada automaticamente
Fonte: Disponível em:< https://www.ssp.am.gov.br/a-ssp/> Acesso em: 10 abr. 2024

Diante deste quadro de crescimento da criminalidade e violência no Amazonas, a segurança pública foi um dos assuntos que tiveram grande relevância na campanha eleitoral de 2018 e que foi amplamente mobilizada pelos candidatos. Wilson Lima deu grande ênfase ao tema, num teor bastante punitivista, algo que já tratava costumeiramente em seu programa policial, usando o lema “Agora, a bronca é comigo”.[7] Nesse sentido, uma vez eleito, declarou que a prioridade de sua administração seria a segurança pública.[8]

SECRETÁRIOS DE SEGURANÇA PÚBLICA DO AMAZONAS

Cel. PM Louismar de Matos Bonates (secretário de 2019 até 2021)

O primeiro secretário de seu governo foi Louismar de Matos Bonates, coronel da reserva da Polícia Militar do Amazonas (PM/AM) com longa trajetória na vida política amazonense. Nascido em Manaus, ingressou na corporação em 1979, realizando diversos cursos de formação da PM, inclusive em outros estados. Durante seu período na ativa, foi subcomandante do Comando de Policiamento Especializado (CPE), Secretário-Geral e Diretor de Pessoal da PM/AM.[9]

Além dos postos na polícia, Bonates ocupou diversos cargos políticas na administração pública antes de assumir a SSP-AM, tanto em nível municipal como estadual, associando-se com diferentes grupos políticos. Na prefeitura de Manaus, foi chefe do Gabinete Militar e secretário municipal de Meio Ambiente (antiga SEDEMA) durante a primeira gestão de Arthur Virgílio Neto (1989-1993, então no PSB),[10] bem como, posteriormente, de transportes urbanos (antiga SMTU).[11]

A partir da experiência municipal, Bonates passou a construir uma carreira na política estadual. Atuou como chefe da Casa Militar da Assembleia Legislativa do Amazonas (ALEAM) e, em 2013, foi nomeado secretário de Estado de Justiça e Cidadania durante o governo de Omar Aziz.[12] Na administração seguinte, de José Melo (2014-2017, então no PROS), foi escolhido como o primeiro titular da Secretaria de Estado de Administração Penitenciária (SEAP), responsável pela administração das unidades prisionais do estado e antes vinculada à pasta da justiça. Sua breve gestão foi marcada por uma grave crise no sistema carcerário amazonense, com um crescimento nos assassinatos em presídios associados ao confronto entre grupos criminosos.[13] Nos anos seguintes, foi acusado de ter negociado com uma facção criminosa para reduzir as mortes nas unidades prisionais do estado.[14]

O período em que esteve a frente da SSP-AM foi marcado por uma grave crise no sistema penitenciário, com dezenas de assassinatos nos presídios amazonenses.[15] Entre 2020 e 2021, o estado viu um crescimento expressivo na violência policial e no índice de mortes violentas (53,8%), algo que contrastava radicalmente com o restante do país, onde houve uma redução de 6% no mesmo período.[16] O secretário também foi denunciado, a partir de investigações da Polícia Federal, de envolvimento na chacina do rio Abacaxis, no município de Nova Olinda do Norte (AM).[17] Anos antes, fora investigado também por ter feito parte de um grupo de extermínio na época em que estava na ativa na PM/AM.[18] Em meados de 2021, a operação Garimpo Urbano investigou a cúpula da SSP-AM, prendendo o secretário de inteligência do órgão. As denúncias envolviam desvios de ouro apreendido pela polícia e extorsão de garimpeiros ilegais.[19]

Apesar dessas polêmicas, Lima manteve Bonates na secretaria. Sua demissão se deu em meio a uma crise política envolvendo o governador e o seu vice, Carlos Almeida (então no PSDB), após romperem relações em meio à deflagração da Operação Sangria, que investigou a cúpula do governo do estado por desvios e outras irregularidades com recursos da saúde durante a pandemia de COVID-19.[20] Em julho de 2021, quando o governador cumpria agenda fora do estado, seu vice exonerou Bonates e tentou nomear um aliado para a SSP-AM sem conhecimento prévio de Lima. A demissão foi revertida pouco depois, mas em agosto o secretário se afastou alegando motivos de saúde.[21]

Não obstante a trajetória conturbada, Bonates continua como uma figura relevante no cenário político amazonense, próximo ao governador. Em 2022 filiou-se ao União Brasil e concorreu a deputado federal, porém não foi eleito.[22] Alguns de seus familiares também ocuparam cargos políticos nos últimos anos. O atual secretário executivo da pasta estadual da cultura, Luiz Carlos de Mattos Bonates, conhecido como “KK Bonates”, é irmão do ex-secretário. Luís Mário Braga Bonates, o “Bonatinho” e filho de Lousimar, foi um dos coordenadores da campanha de Wilson Lima em 2018 e tornou-se um de seus aliados mais próximos. No ano seguinte, foi nomeado como “secretário extraordinário”[23] e, depois, como Secretário Executivo de Projetos Especiais do Governo da Casa Civil, onde ficou até ser exonerado em meio às repercussões políticas da operação Garimpo Urbano em 2021.[24] Atualmente filiado ao União Brasil, “Bonatinho” tornou-se vice-presidente do partido no Amazonas no início deste ano.[25]

General Carlos Alberto Mansur (secretário de 2021 até 2023)

Após a exoneração de Bonates, o governador nomeou o general Carlos Alberto Mansur para a SSP-AM. Foi o primeiro membro das Forças Armadas a ocupar a titularidade da pasta desde sua criação[26] e sua escolha fez o Amazonas se juntar a outros estados da federação que tiveram secretários com perfis similares, como o Rio de Janeiro e São Paulo.

Nascido na cidade de Paranaguá (PR), Mansur iniciou a vida militar em 1977, quando entrou na Escola Preparatória de Cadetes do Exército (EsPCEx), em Campinas (SP). Em seguida, ingressou na Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN), onde se formou como oficial de artilharia em 1983. Durante sua carreira militar, Mansur fez diversas especializações e pós-graduações, que incluem um MBA pela Fundação Getúlio Vargas no Rio de Janeiro (FGV-RJ) e em Planejamento Estratégico Organizacional, pela Fundação Trompowski. Ele também é mestre em Operações Militares pela Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais (EsAO) e realizou cursos na Escola de Comando e Estado-Maior do Exército (ECEME), requisito obrigatório para a ascensão ao generalato.

Em sua trajetória até o posto de general de divisão, Mansur assumiu comandos, cargos e funções dentro do Exército. Foi comandante de unidades militares em Roraima (10º Grupo de Artilharia de Campanha de Selva e 1ª Brigada de Infantaria de Selva, ambos em Boa Vista), Bahia (Escola de Formação Complementar do Exército e Colégio Militar de Salvador), Paraná (5ª Região Militar), além de chefiar a seção de operações Comando Militar do Sudeste, em São Paulo. Também teve experiência internacional, que incluiu o posto de Observador Militar da Organização das Nações Unidas (ONU) na Guatemala e adido Militar na China, Coréia e Vietnã. Antes de assumir a SSP-AM, foi também diretor da Divisão de Patrimônio Histórico e Cultural do Exército (DPHEEx) e vice-chefe do Departamento de Educação e Cultura do Exército, no Rio de Janeiro.

No Amazonas, Mansur teve uma larga trajetória que incluiu a atuação em unidades militares no interior, como em São Gabriel da Cachoeira e Barcelos, bem como nos órgãos de alto comando localizados em Manaus, onde comandou a 12ª Região Militar e foi subchefe do Estado-Maior do Comando Militar da Amazônia (CMA). A partir destas experiências, o general estabeleceu raízes no estado e ganhou, em 2021, o título de cidadão amazonense numa homenagem feita pela ALEAM.[27]

Desta maneira, pouco depois de passar à reserva, o general Mansur assumiu a SSP-AM. Considerado discreto e ponderado, tinha um perfil que parecia adequado em meio à crise que a pasta passava em virtude das denúncias de envolvimento com o garimpo ilegal, os graves problemas no sistema penitenciário e o crescimento das atividades do narcotráfico no estado.[28] Na época, o filho do general, Victor Mansur, já tinha laços políticos e cargos importantes dentro da secretaria. Em 2019, foi nomeado para um cargo de confiança na SSP-AM e, em 2020, virou coordenador do Núcleo Especializado em Operações de Trânsito (NEOT), que funcionava no âmbito do DETRAN.[29]

Com a reeleição de Wilson Lima, o general Mansur foi mantido na pasta, pese o agravamento da situação da segurança pública no estado. A escalada de violência e os crimes ambientais tinham ganhado repercussão internacional naquele ano com o assassinato do indigenista Bruno Pereira e do jornalista britânico Don Philips no município de Atalaia do Norte, no extremo oeste do Amazonas.[30]

Em agosto de 2023, a alta cúpula da SSP-AM voltou ao noticiário nacional com a Operação Comboio, realizada pela Política Federal e o Ministério Público do Amazonas. As investigações conduzidas por estes órgãos apontavam o envolvimento de autoridades da secretaria, incluindo o filho de Mansur, com o garimpo ilegal e outros grupos criminosos. Durante a operação, o general foi preso e demitido.[31]

Cel. PM Marcus Vinícius Oliveira de Almeida (secretário de 2023 até o momento)

O atual titular da SSP-AM é o coronel Marcus Vinícius Oliveira de Almeida. Natural do município de de Atalaia do Norte, o secretário ingressou na PM-AM seguindo os passos de seu pai, que foi o primeiro praça a se tornar oficial na história da corporação.[32] Sua formação inclui um bacharelado em Ciências de Defesa Social e Cidadania pelo Instituto de Ensino de Segurança do Pará e uma especialização em Inteligência de Estado e de Segurança Pública pela Fundação Escola Superior do Ministério Público de Minas Gerais, além de um curso de Aperfeiçoamento de Oficiais pela Escola Superior de Polícia Militar do Rio de Janeiro.[33]

Durante sua carreira policial, ocupou importantes postos na corporação, o comando da 10ª e 12ª Companhia Interativa Comunitária (CICOM), do Batalhão de Trânsito (BPTran) e do Comando de Policiamento Área Norte (CPA Norte) em Manaus. Além disso, atuou na Diretoria de Tecnologia da Polícia Militar do Amazonas e na Secretaria Executiva-Adjunta de Planejamento e Gestão Integrada (SEAGI) da SSP-AM.

Em janeiro de 2019, no início do governo de Wilson Lima, foi nomeado para a Secretaria de Estado de Administração Penitenciária (SEAP) e acabou promovido a coronel em agosto daquele ano. Almeida foi secretário até dezembro de 2021, quando assumiu o Comando Geral da Polícia Militar do Amazonas,[34] cargo que permaneceu até assumir a SSP-AM.[35]

CONSIDERAÇÕES FINAIS

As duas secretarias analisadas neste boletim, meio ambiente e segurança pública, são consideradas fundamentalmente técnicas, apesar de serem fundamentais para o planejamento e execução de políticas públicas relevantes. No entanto, não são disputadas pelos partidos da coalizão de governo liderada por Wilson Lima, o que permite que o governador possa exercer uma influência maior nelas, uma vez que as indicações para secretários não seguem uma lógica de acomodação de aliados partidários. Assim, o processo de delegação da autoridade governamental passada ao secretariado, respeitadas as variáveis partidárias e técnicas para o exercício da função, não resultam de grandes rivalidades ideológicas ou partidárias pelo controle das duas pastas.

Os perfis dos secretários das duas pastas analisadas combinam oportunidades políticas com expertise setorial, ainda que a experiência política prévia – ainda que não partidária – foi relativamente importante na escolha para a secretaria de segurança pública. Vale acrescentar que nos dois casos há uma preocupação nacional e internacional com a gestão ambiental (ilícitos ambientais, queimadas tráficos), bem como o crescimento acelerado dos números da violência em todo o Amazonas.

Agradecimentos

Iniciativa Amazônia + 10.

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  1. https://amazonasatual.com.br/escolhido-para-secretario-do-meio-ambiente-e-superintendente-da-fas/
  2. https://www.aleam.gov.br/aleam-concede-titulo-de-cidadao-amazonense-ao-secretario-eduardo-taveira/
  3. https://infoamazonia.org/2022/10/24/wilson-lima-responde-por-omissao-no-combate-ao-desmatamento-em-15-municipios-do-amazonas/
  4. https://oeco.org.br/reportagens/com-politica-ambiental-vaga-wilson-lima-e-reeleito-enquanto-amazonas-sofre-com-seca/
  5. https://bncamazonas.com.br/poder/wilson-lima-reconvoca-mais-2-secretarios-mas-11-ainda-estao-fora/
  6. https://www.intercept.com.br/2023/11/08/fumaca-em-manaus-vem-da-rodovia-br-319-nao-do-para-entrevista/
  7. https://apublica.org/2022/09/amazonas-vive-descontrole-na-seguranca-publica-mas-tema-passa-longe-da-eleicao/
  8. https://www.casacivil.am.gov.br/na-82a-reuniao-de-secretarios-de-seguranca-publica-wilson-lima-destaca-investimentos-do-governo-do-amazonas/
  9. https://www.ssp.am.gov.br/secretarios/
  10. https://amazonas1.com.br/apos-40-anos-de-carreira-bonates-quer-ser-deputado-vou-trabalhar-muito-pela-seguranca/
  11. https://www.ssp.am.gov.br/secretarios/
  12. https://www.redetiradentes.com.br/governador-omar-aziz-anuncia-novo-titular-da-sejus-sai-wesley-aguiar-entra-coronel-bonates/
  13. https://amazonasatual.com.br/louismar-bonates-pede-para-sair-da-seap/
  14. https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2019/05/secretario-do-am-ajudou-faccao-que-domina-presidios-diz-policia-federal.shtml
  15. https://g1.globo.com/am/amazonas/noticia/2019/05/28/o-que-se-sabe-sobre-a-crise-penitenciaria-no-amazonas.ghtml
  16. https://apublica.org/2022/09/amazonas-vive-descontrole-na-seguranca-publica-mas-tema-passa-longe-da-eleicao/
  17. https://g1.globo.com/am/amazonas/noticia/2023/04/28/ex-secretario-de-seguranca-e-coronel-da-pm-sao-indiciados-pela-pf-por-envolvimento-em-chacina-no-am.ghtml
  18. https://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2019/07/16/gravacoes-da-pf-ligam-secretario-de-seguranca-do-am-a-grupos-de-exterminio.ghtml
  19. https://g1.globo.com/am/amazonas/noticia/2021/07/09/delegado-e-tres-policiais-sao-presos-em-manaus.ghtml
  20. https://g1.globo.com/am/amazonas/noticia/2021/04/29/vice-governador-do-am-diz-que-denuncia-da-pgr-e-infundada.ghtml
  21. https://revistacenarium.com.br/com-saida-de-bonates-general-assume-secretaria-de-seguranca-publica-do-amazonas/
  22. https://amazonas1.com.br/apos-40-anos-de-carreira-bonates-quer-ser-deputado-vou-trabalhar-muito-pela-seguranca/
  23. https://radaramazonico.com.br/governador-nomeia-filho-do-secretario-de-seguranca-para-o-cargo-de-secretario-extraordinario/
  24. https://radaramazonico.com.br/as-vesperas-de-julgamento-de-wilson-lima-arthur-neto-diz-que-governador-e-um-descalabro/
  25. https://amazonasatual.com.br/acordo-de-paz-no-uniao-brasil-acomoda-pauderney-e-bonatinho/
  26. https://www.ssp.am.gov.br/secretarios/
  27. https://www.aleam.gov.br/aleam-realiza-outorga-de-titulo-de-cidadao-ao-general-carlos-alberto-mansur/
  28. https://www.correiobraziliense.com.br/politica/2023/08/5121489-general-e-preso-em-operacao-que-mira-extorsao-a-garimpeiros.html
  29. https://revistacenarium.com.br/esquema-de-extorsao-no-am-envolvia-filho-de-general-diz-ministerio-publico/
  30. https://apublica.org/2022/09/amazonas-vive-descontrole-na-seguranca-publica-mas-tema-passa-longe-da-eleicao/
  31. https://www.correiobraziliense.com.br/politica/2023/08/5121489-general-e-preso-em-operacao-que-mira-extorsao-a-garimpeiros.html
  32. https://www.pm.am.gov.br/portal/noticia/coronel_vinicius_almeida_-9772
  33. https://www.ssp.am.gov.br/estrutura/coronel-qopm-marcus-vinicius-oliveira-de-almeida/
  34. https://revistacenarium.com.br/coronel-marcus-vinicius-assume-comando-geral-da-policia-militar-do-amazonas/
  35. https://g1.globo.com/am/amazonas/noticia/2023/08/30/coronel-vinicius-almeida-saiba-quem-e-o-novo-secretario-de-seguranca-do-amazonas.ghtml