Adilson V. de Oliveira, Aryeh Craveiro, Natacha Chabalin, Leomir Lemos, Flávio Siqueira, Izabelle Stefany Alves de Freitas, Raimundo França e Telmo Antonio Dinelli Estevinho
“Os candidatos costumam apresentar-se valorizando suas propostas ou características pessoais. Uns se apresentam como ‘xerifes’, para acabar com todo tipo de injustiça social, provocando a síndrome de John Wayne; outros, como abnegados administradores, acima das pressões políticas; outros deixam espalhar slogans do tipo “rouba, mas faz” ou fazem campanha à base do vote em mim porque preciso me ‘arrumar’. No entanto, a maioria se apresenta como instrumento em defesa de interesses específicos ou genéricos, formando opinião”.
(Marcus Figueiredo, em A Decisão do Voto: Democracia e Racionalidade, 2008)
As eleições são processos fundamentais para o exercício da democracia nos regimes democráticos, como é o caso brasileiro. Ainda que sejamos uma democracia relativamente nova, afinal, faz apenas 35 anos que retornamos, de fato, ao exercício contínuo da escolha de representantes por meio do voto direto. Entretanto, o que vale ressaltar neste breve boletim é compreendermos a eleição como um processo ou meio virtuoso pelo qual o eleitor extrai de forma mais contundente os perfis dos candidatos e o que cada um se propõe a fazer, tendo como objeto de análise: os planos de governos, registrados na Justiça Eleitoral, os espectros ideológicos e competição eleitoral em si.
Dito isso, importa destacar que a eleição é o momento fundamental para que cada candidato apresente aos eleitores, por meio dos seus planos de governo, quais são as macropolíticas públicas a serem implementadas no município, caso sua plataforma de governo seja a escolhida pela maioria. Logo, é na eleição que os candidatos suscitam nos eleitores quais são suas expectativas de políticas públicas.
Os planos de governos registrados nos Tribunais Eleitorais são requisitos indispensáveis para que as candidaturas sejam homologadas pela Justiça Eleitoral. Todavia, não há exigência de um formato padrão com e/ou temas a serem contemplados pelos candidatos. Deste modo, em regra, há propostas com uma lauda, assim como com várias páginas. Há propostas que claramente dialogam com os Planos Plurianuais dos gestores em exercício como, também, divergem destes.
Em resumo, no caso dos candidatos à Prefeitura de Cuiabá, nota-se objetivamente que as quatro candidaturas procuram atrelar suas principais propostas em macropolíticas públicas ensejadas na Constituição Federal e/ou na Constituição Estadual, demarcando temas como: saúde, educação, infraestrutura e segurança como pode-se observar na discussão a seguir.
A disputa pela Prefeitura de Cuiabá, capital do Mato Grosso, teve quatro candidaturas homologadas pela Justiça Eleitoral e refletem espectros ideológicos distintos.
I – EDUARDO BOTELHO (UNIÃO BRASIL).
É Presidente Licenciado da Assembleia Legislativa do Mato Grosso, candidato que expressa um posicionamento, ao longo de sua trajetória política, afinado à centro-direita e com forte vínculos aos setores tradicionais da “cuiabania”, assim como traços de populismo político, mesmo tendo sido eleitor por duas vezes deputado estadual pelo Partido Socialista Brasileiro (PSB), que, no Mato Grosso, tem uma longa trajetória de aliança com a centro-direita . Botelho é o candidato que reúne o maior número de partidos políticos em sua coligação e, também, é que dispõe de maior tempo no horário eleitoral. O candidato apresenta um Plano de Governo com ênfase nas seguintes macropolíticas: desenvolvimento, gestão, social, sustentabilidade, urbano, Cuiabá etc.
FIGURA 1. PLANO DE GOVERNO 2025-2028 –
COLIGAÇÃO: (Federação PSDB CIDADANIA (PSDB/CIDADANIA), PROGRESSISTAS – PP, Partido Socialista Brasileiro – PSB, Partido da Mulher Brasileira – PMB, Podemos – PODE, REPUBLICANOS – REPUBLICANOS, Solidariedade – SOLIDARIEDADE, União Brasil)
FONTE: adaptado pelos pesquisadores/TRE/PLANO DE GOVERNO (2025/2028)
Botelho tem adotado como principal estratégia de campanha no horário eleitoral os vínculos às raízes cuiabanas, reforçando o linguajar e as tradições cuiabanas como peças de horário eleitoral por meio de suas menções constantes às tradições culturais do povo cuiabano, na medida em que tenta se afastar dos discursos mais polarizados da agenda política nacional. Além disso, é um candidato que conta com o apoio expresso do governador de Mato Grosso, Mauro Mendes (UNIÃO BRASIL) e todo o seu grupo
II – ABÍLIO BRUNINI (PL)
É deputado federal, já foi vereador em Cuiabá, é um político que se posiciona à direita, com perfil conservador e se apresenta como representante direto do bolsonarismo em Cuiabá, tendo o apoio declarado do ex-Presidente Bolsonaro. Além disso, na Câmara dos Deputados, tem se notabilizado pela defesa de pautas polêmicas, especialmente em comissões da Casa.
Abílio Brunini (PL) apresenta um Plano de Governo com destaque especialmente para questões inerentes às políticas de saúde, educação, moradia, mobilidade urbana e águas, que são os temas mais recorrentes apresentados em seu Plano de Governo.
FIGURA 2. PLANO DE GOVERNO 2025-2028 –
COLIGAÇÃO: PL, NOVO, PRTB E DEMOCRACIA CRISTÃ
FONTE: adaptado pelos pesquisadores/TRE/PLANO DE GOVERNO (2025/2028)
Abílio Brunini (PL) tem focado sua estratégia de campanha no horário eleitoral: o problema da corrupção na Prefeitura de Cuiabá, alvo de inúmeras operações da Polícia Federal, especialmente na Secretaria de Saúde de Cuiabá. Além disso, procura vincular sua candidatura ao Presidente Bolsonaro como seu fiel cabo eleitoral, em discursos manufaturados sobre a necessidade de renovação política.
III – LÚDIO CABRAL (PT)
É deputado estadual de segundo mandato, já foi candidato a Prefeito de Cuiabá e ao Governo do Mato Grosso, é um político que se encontra à esquerda, tem alinhado sua trajetória em defesa de pautas que têm a inclusão como foco de seus mandatos. Dentre as principais agendas contidas em seu Plano de Governo, ganham destaques: Desenvolvimento, inclusão, economia, clima, urbano, saúde etc.
FIGURA 3. PLANO DE GOVERNO 2025-2028 –
COLIGAÇÃO: PT, PV, PC do B, PSD, PSOL e Rede Sustentabilidade
FONTE: adaptado pelos pesquisadores/TRE/PLANO DE GOVERNO (2025/2028)
Lúdio Cabral tem adotado como estratégia de campanha horário eleitoral: “sua condição de médico, seu recall de um candidato com experiência, o apoio do Presidente Lula, bem como uma espécie de ‘despetitização’ de sua candidatura, procurando convencer o eleitor que se vota no candidato e não necessariamente no partido.”
IV -DOMINGOS KENNEDY (MDB)
É empresário, sem trajetória política pretérita, alinha-se ao centro direita em termos ideológicos. Sua candidatura tem o apoio do atual Prefeito de Cuiabá, Emanuel Pinheiro (MDB) que, mesmo com forte oposição interna, conseguiu impor a candidatura de Domingos Kennedy a Prefeito de Cuiabá.
Domingos Kennedy apresenta em seu Plano de Governo as Agendas de Macropolíticas centrais: desenvolvimento, economia, meio ambiente, infraestrutura, mobilidade etc.
FIGURA 4. PLANO DE GOVERNO 2025-2028
– COLIGAÇÃO MDB E PDT
FONTE: adaptado pelos pesquisadores/TRE/PLANO DE GOVERNO (2025/2028)
Domingo Kennedy adota como estratégia no horário eleitoral: “sua condição de empresário bem-sucedido e trabalhador; foco no desenvolvimento econômico; ser um técnico e não um político; menos de discursos e mais ação.”
Diante deste contexto, ao analisar os planos de governo dos candidatos a Prefeito de Cuiabá, podem ser feitas algumas constatações no campo político e dos planos de governo:
- A primeira consiste no fato de que todos os candidatos apresentam Planos de Governos bem elaborados tecnicamente que contêm macropolíticas comuns aos anseios do eleitorado, a exemplo da política de educação, de saúde, de mobilidade, de segurança, de desenvolvimento, de segurança etc.;
- A segunda, nota-se claramente um profissionalismo maior das campanhas eleitorais no que toca à apresentação formal das propostas de campanhas;
- A terceira é que apesar dos eixos de macropolíticas serem comuns, observa-se nitidamente que os candidatos dão maior ênfase enquanto Agenda, a seu campo ideológico;
- Quarta, os Plano de Governos, embora bem sistematizados, são inexequíveis em quatro anos de mandato, portanto, estão distantes da realidade factual.
- Quinta, mesmo Cuiabá e Mato Grosso, aparecendo nacionalmente com números expressivos de queimadas, e Cuiabá estando imersa pela fumaça em pleno período eleitoral, a agenda ambiental foi pouco explorada pelos candidatos na campanha eleitoral;
- Sexto, ainda que as críticas sejam consistentes quanto à capacidade da eleição servir de fato como o instrumento/processo para que macropolíticas públicas sejam aprimoradas no debate público, a eleição tem sido um momento oportuno de exercício e aprimoramento das democracias realmente existentes.
Por último, no que consiste à competição eleitoral em si, isto é, a campanha eleitoral propriamente dita, o candidato Eduardo Botelho (UNIÃO BRASIL) tem liderado a corrida eleitoral, oscilando nas pesquisas divulgadas até aqui entre 33 e 37%; Abílio Brunini (PL) 23 a 26%; Lúdio Cabral (PT), 18 e 23%; e Domingos Kennedy (MDB), entre 3 e 5%.
Neste contexto, há uma forte tendência de segundo turno na capital mais calorosa do Brasil, entre Eduardo Botelho (UNIÃO BRASIL), Abílio Brunini (PL) e Lúdio Cabral (PT) competindo pela segunda posição.
Agradecimentos: Iniciativa Amazônia +10