Luci Maria Teston, Ermício Sena, Manoel Valdemiro F. Rocha e Rosa Indira Alves
Os eleitores no Acre mantiveram a tendência observada nas últimas eleições ao votarem em candidatos situados à direita no espectro ideológico. A diferença neste pleito de 2022 consiste no fato do candidato à presidência pelo PT ter obtido um maior percentual de votos se comparado ao candidato ao governo do Acre pelo PT, algo até então não observado na dinâmica eleitoral no estado.
Desde as eleições gerais de 2002, nota-se que, apesar do PT ter candidato majoritário tanto à presidência quanto ao governo do estado, os votos não foram “casados”, ou seja, não seguiram o mesmo espectro ideológico. Somente em duas oportunidades a esquerda conseguiu suplantar os adversários na disputa para a presidência: em 2002, com Lula, e em 2014 com Dilma Rousseff (gráfico 1).
Gráfico 1 – Votos válidos (1º turno) à Presidência da República no Acre (2002-2022)
Fonte: TSE
O movimento observado nas eleições de 2018 se manteve no pleito atual. Em 2018 o Acre foi o estado em que Jair Bolsonaro obteve seu melhor desempenho eleitoral no 2º turno, com 77,2% dos votos válidos. Nestas eleições, os eleitores mantiveram a tendência do voto bolsonarista, com 70,3% optando pelo candidato no segundo turno, um dos maiores percentuais observados no Brasil.
Um fator interessante é que a esquerda, em termos de voto para presidente, demonstra sinais de recuperação de sua força eleitoral se comparado ao pleito de 2018. Naquela eleição, o candidato Fernando Haddad (PT) obteve 22,7% dos votos válidos. Nestas eleições, 29,7% dos eleitores votaram em Lula (PT) no segundo turno. As razões para estes sinais de recuperação eleitoral da esquerda podem estar associadas ao capital político que Lula ainda mantém no estado e, neste sentido, torna-se essencial observar os próximos pleitos para verificar se esta tendência, de fato, se confirma.
Cabe ressaltar, neste cenário de consolidação do voto em partidos situados à direita do espectro ideológico, o alto índice de abstenção observado no segundo turno no Acre. Deixaram de votar para presidente 28,4% dos eleitores, o maior percentual entre os estados brasileiros.
No âmbito da disputa ao governo do estado, no entanto, a esquerda manteve-se vitoriosa por 20 anos, desde as eleições de 1998 até 2018 quando, em decorrência da perda de fôlego eleitoral e na esteira da onda ultraconservadora instaurada pelo país, inicia-se o predomínio eleitoral de partidos de direita, a partir da vitória de Gladson Cameli (PP) ao governo em 2018 e sua reeleição, ainda em primeiro turno, em 2022.
Gráfico 2 – Votos válidos (1º turno) do governo do estado do Acre (2002-2022)
Fonte: TSE
Das eleições de 2006 até o último pleito, a esquerda, gradativamente, vem perdendo envergadura eleitoral nas disputas. A direita, por outro lado, se mantém à frente, com mais de 50% dos eleitores optando por partidos situados neste espectro ideológico nas últimas eleições. E o centro apresenta uma tendência de recuperação de sua força eleitoral observada nesta eleição.
Na disputa atual, Gladson Cameli (PP) teve como principal oponente a principal liderança do PT no Acre, o ex-prefeito de Rio Branco, ex-governador e ex-senador Jorge Viana (PT). Gladson obteve 56,7% dos votos e Jorge Viana 24,2% dos votos válidos.
Tanto a reeleição do governador Gladson Cameli no primeiro turno das eleições de 2022 ao governo do Acre quanto o expressivo percentual de votos obtidos por Jair Bolsonaro podem estar associados à onda antipetista que tomou conta do Estado desde a eleição de 2018 e, ao que parece, se consolida nas eleições atuais com tendência de permanência desta dinâmica eleitoral no estado para os próximos anos.