Antônia Miguel, Cleber Batalha, Edileuson Almeida, Jeferson França
Assim como nas eleições proporcionais, quaisquer tentativas de explicar o pleito para os cargos de governador e de senador de Roraima em 2022, obrigatoriamente terá que investigar as ligações com a eleição presidencial. Após o primeiro turno, o candidato à reeleição para a Presidência da República, Jair Bolsonaro, obteve em Roraima a maior porcentagem entre todas as entidades federadas: 69,57 % dos votos válidos. Derrotado apenas no município de Uiramutã, fenômeno que será abordado adiante.
O candidato à reeleição ao Governo, Antônio Denarium (Progressistas), aliado de primeira hora do atual presidente, obteve 56,47 % dos votos válidos, assim conseguindo algo inédito em Roraima: ser reeleito no primeiro turno. A segunda colocada, Teresa Surita (MDB), obteve 41,14 % dos votos válidos. Juntos totalizaram 97,61% dos votos válidos, o que define esta disputa como bipolar. Entretanto, a candidata derrotada procurou “colar” a sua campanha a do candidato do Partido Liberal, mesmo tendo o MDB lançado uma candidatura à Presidência. A coligação de Denarium, “Roraima Trabalhando e Deus Abençoando”, foi composta pelo PSD, PP, PRTB, Republicanos e UNIÃO. Teresa formou a coligação “Roraima muito melhor” composta pelo MDB, PL, PSB e PMB. Nesse cenário, PP e PL, partidos da coligação que nacionalmente dá sustentação à candidatura do atual presidente à reeleição, seguiram em lados opostos na disputa pelo governo do estado.
Na eleição de 2018, Denarium (então no PSL) lançou-se como outsider na onda da antipolítica, disputando o primeiro turno com os seguintes candidatos: Fábio Almeida (PSOL), a então governadora Suely Campos (PP), o senador Telmário Mota (PTB) e o ex-governador Anchieta Júnior (PSDB). Sendo o mais votado com 42,26% e em segundo Anchieta Júnior com 38,78 % dos votos válidos. Já no segundo turno, Anchieta obteve 46,65% e Denarium 53,34% dos votos válidos, portanto, sendo eleito. Entretanto, Denarium assumiu o governo do estado antes da posse oficial como governador. Ele foi nomeado interventor federal por ocasião do afastamento da governadora Suely, cujo governo (2015-2018) enfrentava um colapso nas contas públicas, resultando numa intervenção federal, decretada, em 10 de dezembro de 2018, pelo então presidente Michel Temer.
Desde o início de seu mandato, Denarium buscou aproximar-se do presidente da República, procurando ser um porta-voz do agronegócio e da mineração informal. Outra vitória foi a cassação do então presidente da Assembleia Legislativa de Roraima (ALERR) Jalser Renier, não que era de oposição, mas poderia ser um forte candidato ao governo.
Já na eleição de 2022, concorreu com a ex-prefeita de Boa Vista Teresa Surita, além de Fábio Almeida (PSOL), Juraci dos Santos (PDT) e Rudson Leite (PV), sendo vitorioso em todos os municípios. Teresa é ex-esposa do ex-senador Romero Jucá, iniciou a sua carreira política com o sobrenome do então esposo. Eleita a quatro mandatos como prefeita, sempre foi bem avaliada e fez o seu sucessor em 2020. Boa Vista correspondeu a 66,38% dos votos válidos, no entanto, Teresa obteve 45,48% enquanto Denarium obteve 52,1% dos votos válidos.
Já a disputa para o Senado Federal foi mais acirrada, participaram o deputado federal Hiran Gonçalves (Progressista), o senador Telmário Mota (PROS), o ex-senador Romero Jucá (MDB), Bartô Macuxi (PSOL), Dr. Ilderson (PTB), Ozeas Colares (Podemos) e Maranhão do Povão (PDT). Hiram obteve 46,43% e Romero obteve 35,75% dos votos válidos. Os outros candidatos somados obtiveram 17,82% dos votos válidos. Hiran é alinhado com o governador e com o presidente. Já Romero tentou colar na figura do presidente, mesmo o MDB tendo candidatura própria. Hiran foi o mais votado em doze dos quinze municípios, inclusive em Boa Vista. Telmário no Amajari e em Normandia e o candidato Bartô obteve o primeiro lugar em Uiramutã.
A grande surpresa foi o município de Uiramutã. Com uma população predominantemente indígena e base eleitoral da deputada federal Joênia Wapichana (REDE), a primeira deputada federal indígena de Roraima, foi onde o candidato do PT à Presidência obteve a sua única vitória contra o candidato do PL. Também onde Joênia foi a candidata mais votada com 38% dos votos válidos, apesar de não conseguir ser reeleita, e o candidato ao Senado Bartô Macuxi foi o mais votado, com 39,18% dos votos válidos.