CENÁRIOS DA DISPUTA ELEITORAL PARA A PREFEITURA DA CAPITAL PARAENSE

Rodrigo Dolandeli dos Santos; Carlos Augusto da Silva Souza; Bruno de Castro Rubiatti; Leny May da Silva Campelo; Jorge Lucas Nery de Oliveira; Denis Conrado; Raimunda Eliene Sousa Silva; Jonatas Nogueira Aguiar de Souza e Silva

Belém apresenta um cenário bastante competitivo para a eleição de 2024. Apesar das convenções partidárias terem um prazo legal entre 20 de julho a 5 de agosto para apresentarem oficialmente seus candidatos, as alianças e lançamento de pré-candidaturas já estão ocorrendo.

Com base nas notícias veiculadas pelos principais meios de comunicação da  capital, após o encerramento da janela partidária e do prazo de filiação, sete pré-candidatos podem disputar a eleição para a prefeitura de Belém, são eles: o atual prefeito Edmilson Rodrigues (PSOL), o deputado federal Eder Mauro (PL); o atual secretário de Cidadania do Pará Igor Normando (MDB); o professor Ítalo Abati (Novo); o jornalista Jefferson Lima (Podemos), o deputado estadual Thiago Araújo (Republicanos) e a ativista do movimento negro Wellingta Macêdo (PSTU). Outros nomes podem surgir até a realização das convenções, entre eles o do Delegado Everaldo Eguchi, que ainda tenta viabilizar sua candidatura, após peregrinar por vários partidos.

A eleição na capital paraense se reveste de intensa expectativa para a política local em razão da realização da COP 30 em 2025, acontecimento histórico para o município, que possibilitará um expressivo capital político para o próximo prefeito da capital paraense. Além de ser uma provável agenda de campanha, e dos candidatos serem instados a apresentar propostas a serem incorporadas ao Plano Municipal de Mudanças Climáticas em processo de elaboração pelo atual governo, como parte do Programa Cidades Sustentáveis.

Em pesquisa recente divulgada pela empresa Doxa, o deputado federal Eder Mauro aparece em primeiro lugar com cerca de 19,3% das intenções de voto. O atual prefeito, Edmilson Rodrigues, aparece em segundo lugar com 12,6%; Igor Normando está com 11,1%; Thiago Araújo exibe 10,9%; Everaldo Eguchi aparece com 8,7% e Jeferson Lima com 6,5%. Por outro lado, há uma significativa margem de eleitores que ainda não definiram seus candidatos, pois o percentual de indecisos que apareceu na pesquisa estimulada chega a 17,5% e daqueles que declaram votar em branco ou os que poderiam anular seu voto chegam a 12,2%. Este cenário indica uma eleição ainda bastante indefinida e com elevada imprevisibilidade. O que reforça o resultado da pesquisa espontânea, na qual 71,8% dos eleitores ainda não souberam informar em quem votariam.

Nesse momento, ainda não foram definidas as indicações para os vices em cada chapa, o que pode configurar um “ingrediente” para a reconfiguração das alianças que serão formadas futuramente.

Um dado que chama a atenção na pesquisa Doxa refere-se aos índices de rejeição dos candidatos. Neste cenário o atual prefeito, Edmilson Rodrigues, aparece na dianteira com 60,1% de rejeição. O deputado Éder Mauro tem 12,4%, em seguida, Eguchi ficou com uma rejeição de 2,9%, Jeferson Lima com 0,8%, Igor Normando com 0,6% e, por último, Thiago Araújo com 0,4%. Mas é importante salientar que o descontentamento com alguns não reflete a popularidade de outros.

A rejeição ao atual prefeito, ao lado do índice de desaprovação que se encontra em 80%, se traduz como uma preocupação para sua base de apoio. As pesquisas indicam que uma motivação para esse índice é a situação do serviço de coleta de lixo da cidade. É de conhecimento público que o governo municipal adotou medidas para sua resolução, como a contratação de um Consórcio para realizar a gestão dos serviços relacionados aos resíduos sólidos. Entretanto, a pesquisa ocorreu antes do início dos serviços, não podendo, portanto, avaliar a efetividade das medidas adotadas e seu real impacto na avaliação do prefeito. 

Edmilson se encontra em seu terceiro mandato, e se consolida como o candidato vinculado ao campo da esquerda. No decorrer dos últimos meses recebeu o apoio do PT, PC do B, PV, REDE e PDT à sua reeleição. Mas reverter o cenário negativo de insatisfação popular com sua gestão é um dos principais desafios dessa eleição. Para isso, tem-se ao seu favor o apoio do Presidente da República Lula que goza de razoável prestígio entre os eleitores da capital, onde sua aprovação nas últimas pesquisas ultrapassa os 50%, além da realização de obras e serviços executados pela Prefeitura de Belém com o apoio do governo federal.

O Delegado Eder Mauro, que foi aliado do governador Helder Barbalho em seu primeiro governo, lidera as pesquisas de opinião e tenta, pela segunda vez, conquistar a prefeitura de Belém. O Deputado é uma das apostas do campo bolsonarista na Amazônia, que, de acordo com pesquisas nas capitais da Região Norte, é a região com o melhor cenário de vitórias para os apoiadores de Bolsonaro e aliados.  Até o momento, Eder Mauro conta apenas com o apoio de seu partido, o PL. Como Deputado Federal, no terceiro mandato, tem uma atuação ideológica marcada por atitudes agressivas contra outros parlamentares.  

Por outro lado, Igor Normando conta com o apoio do atual governador do Pará, Helder Barbalho, e da máquina do governo estadual na disputa pela prefeitura. O fator negativo lembrado nas pesquisas é a sua pouca experiência em campanhas para o executivo, além de ser pouco conhecido pelo eleitorado da capital. Por isso, o apoio de Helder é fundamental para sua candidatura. 

Na eleição de 2022, Helder se reelegeu no primeiro turno, com 70,41% dos votos válidos, representando a maior votação proporcional entre os governadores eleitos do Brasil e apoiado por uma coligação formada por 15 partidos das mais diversas tendências ideológicas. Esse apoio pode ser observado na movimentação dos partidos, como o caso do PSB que se retirou da base de governo do prefeito Edmilson e do União Brasil, que recebeu a filiação de Úrsula Vidal, Secretária Estadual de Cultura, até então no MDB, para ser, possivelmente, a vice na chapa de Igor Normando. 

De qualquer forma, é importante observar que a base de apoio do governador Helder Barbalho está passando por mudanças, o que pode refletir na capacidade do seu bloco político de conseguir levar o candidato do MDB para o segundo turno na capital. 

O arco de alianças para as eleições municipais se fragmentou com diversos partidos lançando candidatos próprios, o que pode fazer parte de uma estratégia das elites partidárias, ou seja, lançar o maior número de candidaturas no mesmo espectro ideológico, ou próximo, para favorecer um candidato. Além de ruptura com nomes importantes da política local, no arco da aliança política de Helder, sendo a mais recente ocorrida com a saída do prefeito de Ananindeua, Daniel Santos, que migrou do MDB para o PSB, com a interveniência do vice-presidente Geraldo Alckmin.

Ananindeua é a segunda maior cidade do Pará, populacional e eleitoralmente, e por sua proximidade com a capital pode exercer influência nos resultados eleitorais e nas alianças para o segundo turno. Ademais, a imprensa já divulga que Dr. Daniel, que neste ano disputará a reeleição para a prefeitura de Ananindeua, será um possível concorrente para o governo do Pará em 2026. Como Helder não será mais candidato, a sucessão municipal se torna muito importante para a disputa do governo estadual no futuro.

Thiago Araújo já está em seu terceiro mandato como deputado estadual e tenta pela segunda vez chegar ao executivo municipal. Na primeira tentativa, em 2020, contou com o apoio do então prefeito Zenaldo Coutinho. Lançado como pré-candidato pelo Republicanos, o deputado veio originalmente do antigo PPS, atual Cidadania, no qual exerceu por 12 anos o mandato de deputado estadual. Nessa eleição, Araújo migrou para o Republicanos numa manobra para viabilizar sua candidatura para a prefeitura de Belém.

Lançado como pré-candidato pelo Podemos, o radialista Jeferson Lima é outro nome que aparece como pré-candidato para as eleições de outubro de 2024. Lima já é conhecido na disputa para o executivo municipal, pois já foi candidato para a prefeitura de Belém em 2012, onde ficou em terceiro lugar com 12,9% dos votos. Também disputou em 2016 a prefeitura de Ananindeua, ficando em segundo lugar com 25,6% dos votos. E concorreu a uma vaga na ALEPA em 2018, mas não conseguiu se eleger devido a regra do quociente partidário, mas teve bom desempenho nas urnas, garantindo-lhe umas das suplências nessa eleição. Apesar de não aparecer bem-posicionado nas pesquisas, até então realizadas, para a prefeitura de Belém, Lima terá um papel de destaque para as alianças que se formarão em caso de segundo turno na capital paraense.

Apesar de ainda estar viabilizando sua candidatura, o delegado federal Everaldo Eguchi já aparece nas pesquisas como pré-candidato nessa eleição. Eguchi foi candidato em 2020 pelo Patriota e, apesar de sua inexperiência na política eleitoral, com o apoio de Jair Bolsonaro chegou ao segundo turno superando grandes forças políticas tradicionais na política paraense, a exemplo do MDB que teve como candidato o Deputado Federal José Priante e ficou em terceiro lugar. Eguchi perdeu a eleição de 2020 para o candidato do PSOL, Edmilson Rodrigues, mas chegou próximo à vitória com 48,24% dos votos válidos, o que lhe confere certo capital político para esta eleição. Apesar de não contar com o apoio no primeiro turno das forças bolsonaristas que irão apoiar o delegado Eder Mauro, Eguchi tem elevado potencial político para se tornar uma força política relevante nesta eleição.

A candidata do PSTU, Wellingta Macedo, também conhecida como Well, é ativista do Movimento Nacional Quilombo, Raça e Classe. Well já foi candidata ao legislativo municipal em 2016 e ao legislativo federal em 2022, sendo esta sua primeira tentativa de eleição a um cargo majoritário.

Por tudo o que foi exposto, o cenário aponta para uma disputa bastante fragmentada, dado o número de pré-candidatos apresentados até o momento, sendo alguns com significativo peso eleitoral. Ao mesmo tempo que se desenha uma polarização entre esquerda e direita, sendo que as forças do centro, por sua vez, buscam ter um protagonismo nestas eleições.

Agradecimentos: iniciativa Amazônia+10

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