Adilson V. de Oliveira, Aryeh Craveiro, Natacha Chabalin, Telmo Antonio Dineli Estevinho e Raimundo França
Capital do estado de Mato Grosso, Cuiabá, terra do rasqueado e do siriri, que, em 2024, completou exatamente 305 anos, começa a viver o clima da eleição municipal com o ritmo intenso do calor local bem característico. Como maior colégio eleitoral do estado, Cuiabá torna-se o centro gravitacional das eleições no Mato Grosso devido à sua importância política, eleitoral, econômica e cultural.
As eleições de 2024, em Cuiabá, refletem, em grande medida, a conjuntura política nacional ao revelar tendências significativas dos campos ideológicos mais presentes no cenário político atual (Esquerda, Centro e Direita).
Três candidaturas têm se apresentado ao eleitorado e nas pesquisas como as mais competitivas ao Palácio Alencastro, que são: Dep. Estadual Eduardo Botelho (União Brasil), Dep. Estadual Lúdio Cabral (PT) e Dep. Federal Abílio Júnior (PL). Os candidatos possuem trajetórias políticas distintas entre si, mas que marcam fenômenos políticos interessantes para se compreender a política mato-grossense na atualidade.
O Deputado Estadual Eduardo Botelho, atual presidente da Assembleia Legislativa de Mato Grosso (ALMT), é natural de Nossa Senhora do Livramento, região da Baixada Cuiabana. Desde 2013, Botelho tem sido eleito e reeleito com números expressivos de votos a cada eleição, ganhando espaço de Poder no Legislativo e sendo eleito à Presidência da Assembleia Legislativa do estado do Mato Grosso, nos Biênios 2017-2019, 2020-2021 e 2023 a 2025. O deputado tem alinhado sua agenda com enfoque em políticas que fortaleçam o desenvolvimento rural e na regularização fundiária no estado, bem como presença forte na região da Baixada Cuiabana.
A trajetória partidária de Eduardo Botelho iniciou-se no Partido Socialista Brasileiro (PSB), em 2013, se filiou ao Democratas (DEM) cinco anos depois, e desde 2022, está no União Brasil (fusão entre o Partido Social Liberal e os Democratas). A popularidade do deputado na capital e na Baixada Cuiabana fez com que se tornasse o nome mais forte dentro do partido do Governador Mauro Mendes, estando à frente nas pesquisas de intenção de votos para a prefeitura de realizadas até o momento. Embora a preferência do Governador Mauro Mendes (UB) fosse pela candidatura do Dep. Federal Fábio Garcia (UB). Eduardo Botelho demonstrou poder de articulação dentro do União Brasil e acabou sendo o indicado do Partido à disputa pelo Palácio Alencastro, fazendo com que o Governador Mauro Mendes acabasse por aderir à decisão do União Brasil por Eduardo Botelho.
A segunda candidatura apresenta o Dep. Estadual Lúdio Frank Mendes Cabral (PT) que exerceu por duas vezes o mandato de vereador de Cuiabá (2004-2012) e está no segundo mandato na Assembleia Legislativa de Mato Grosso, após a reeleição em 2022. O candidato é médico sanitarista e atua em pautas em defesa dos trabalhadores. Enquanto representante do Partido dos Trabalhadores em Mato Grosso, Lúdio Cabral se fortaleceu gradativamente no cenário político do estado, junto com o deputado estadual Valdir Barranco, são os dois únicos nomes do PT na ALMT. Lúdio Cabral também já concorreu ao cargo de governador nas eleições de 2018 e já foi candidato a prefeito de Cuiabá nas eleições de 2012.
A indicação de Lúdio Cabral para prefeito de Cuiabá, no arco da Federação da Esperança composta por PT, PC do B e PV, ocorreu com intensa disputa interna dentro da Federação e do próprio PT, pois a executiva nacional do PT demonstrava maior predileção pela candidatura da ex-deputada federal Rosa Neide. Contudo, as pesquisas de opinião apresentavam Lúdio Cabral como a candidatura mais bem ranqueada entre os candidatos da Federação.
O terceiro candidato à prefeitura de Cuiabá, o Deputado Federal Abílio Júnior (PL), possui uma história recente na política de Mato Grosso, tendo sido vereador de Cuiabá e, atualmente, exerce o mandato de Dep. Federal. Na condição de vereador por Cuiabá esteve envolvido em muitas polêmicas, tendo o mandato cassado em razão de quebra de decoro parlamentar, mas posteriormente anulado pelo Tribunal de Justiça do Mato Grosso, o que lhe permite assumir o mandato de Deputado Federal (2023-2026). Sua trajetória tem sido marcada por polêmicas e a acusações de discriminação. Abilio Brunini orienta sua agenda política com forte alinhamento às pautas bolsonaristas, centradas especialmente nos costumes e no enfrentamento das pautas da Esquerda.
Em 2024, a competição política em Cuiabá apresenta um modelo mais equilibrado de disputa no qual o eleitor conseguirá perceber mais claramente a disposição ideológica dos candidatos, mesmo que os partidos se vejam um pouco diferentes no cenário nacional. Percebe-se claramente a adoção de estratégia, por parte dos candidatos, com foco nos campos ideológicos de suas preferências.
Eduardo Botelho (União Brasil) apresenta-se como um candidato de Centro, com discurso conciliador e diplomático, evitando tencionar sua agenda aos extremos políticos. Abílio Júnior (PL) adota uma postura de Extrema Direita, reforçando e destacando sua proximidade ao bolsonarismo e à agenda da direita mais radical. Lúdio Cabral apresenta-se como um candidato de Esquerda, com ênfase em pautas ligadas às questões sociais, ambientais e aos direitos humanos. Além disso, reforça sua proximidade com a agenda social do Presidente Lula.
Figura 1 – Disposição dos candidatos no espectro político (2024) 
FONTE: LEGAL (2024)
Para Lúdio Cabral (PT) vencer a eleição deste ano, o candidato precisará movimentar-se eficientemente entre os eleitores menos ideológicos de Cuiabá, atrelando sua candidatura, com propostas inclusivas que o sustentem durante a campanha eleitoral. Em eleições municipais, as campanhas tendem a ser mais personalizadas, e a imagem de Lúdio Cabral na política de Mato Grosso possui uma trajetória bem-sucedida. Lúdio Cabral tem pela frente a redução da sua rejeição e do eleitorado cuiabano ao petismo, que tem se revelado alta nas pesquisas de opinião pública.
Para Abílio Júnior (PL), canalizar os votos do eleitorado bolsonarista de Cuiabá parece ser a ordem natural da campanha, com apoio intenso dos deputados estaduais e vereadores do partido que o fizeram ser eleito vereador em 2018, bem como o levaram, em de 2020, ao segundo turno da última eleição, com 48,85%, dos votos. Apesar disso, Abílio precisará enfrentar seu alto índice de rejeição para que possa lograr êxito.
Para Eduardo Botelho (UB), o caminho parece mais próximo, pois até aqui as pesquisas têm o mantido na dianteira, com margem razoável de aceitação e baixa rejeição do eleitorado. Além disso, Botelho tem tido grande recepção da cuiabania por se identificar com as tradições culturais do povo cuiabano, bem como apresentando-se como uma candidatura mais próxima às camadas populares.
Importa destacar que até agora, neste período pré-eleitoral, nenhuma das candidaturas tenha dado maiores destaques as suas macroagendas de políticas públicas, por exemplo, não há qualquer ênfase dos candidatos sobre a agenda ambiental no município de Cuiabá, ainda que se tenham grandes questões em pautas sobre os dilemas ambientais do Mato Grosso.
Algo a se destacar das candidaturas apresentadas é que nenhum dos três candidatos vem de uma linhagem familiar de políticos tradicionais do estado e/ou mesmo Cuiabá, contrariando a tradição anteriores com a presença mais direta de atores com trajetórias ligadas diretamente às famílias tradicionais de Cuiabá.
Outro aspecto relevante das disputas na capital será o raio de influência de Bolsonaro sobre Abílio Brunini (PL), visto que nas pesquisas, em torno de 57% do eleitorado no Mato Grosso revelam-se inclinados a votar em candidatos apoiados pelo ex-Presidente Bolsonaro, e 70% do eleitorado demonstra-se apto a votar em candidaturas apoiadas pelo governador Mauro Mendes (União Brasil). Em Cuiabá, mesmo que o governador Mauro Mendes (UB) esteja alinhado com Bolsonaro, ele deve apoiar Eduardo Botelho (União Brasil) e Bolsonaro (PL) apoia Abílio Brunini (PL).
Em síntese, podemos inferir que, de um lado, a eleição para a Prefeitura de Cuiabá tenderá entre Lúdio Cabral (PT) e Abilio Brunini (PL), para uma disputa entre o projeto bolsonarista e o projeto lulista. De outro lado, Eduardo Botelho tende a focar sua candidatura, pelo menos no primeiro turno, ao Centro do espectro político, distanciando-se das disputas mais acirradas ideologicamente, contando com forte apoio do governador Mauro Mendes e da cuiabania.
Agradecimentos: iniciativa Amazônia+10
